40 aprendizados dos meus 40 anos
Edição #261: Um apanhado do que a vida me ensinou até agora.
Fiz 40 anos nesta semana e este aniversário mexeu comigo de um outro jeito. Foi como dar um mergulho no retrovisor. Passei os últimos dias lembrando das minhas fases, dos tombos e dos acertos, das alegrias e das lágrimas, e quis trazer aqui os principais aprendizados destas quatro décadas vividas de forma tão intensa.
Ainda tenho 23 anos. Sou todas as minhas versões antigas, encaixadinhas dentro de mim como pequenas matrioskas. Falei disso no post que fiz no meu aniversário e uma amiga querida lembrou da fala de Oscar Wilde, citado pela Rosa Montero no livro O perigo de estar lúcida: “O pior de envelhecer é que não se envelhece”. Ainda sou a mesma menina insegura com a cor da mochila da escola. A de 14 anos que achava que nunca ia arranjar um namorado. A de 17 cheia de raiva com o divórcio dos pais e a de 20 que cortou os cabelos bem curtinhos e tingiu de preto. E depois de vermelho-laranja. A de 29 que virou mãe. A de 34 que enfrentou a maior barra em casa. Ainda quero colo de mãe e pai e quero dar colo para minhas filhas. Sou a soma de todas estas versões - e comemorei os 40 como se fossem um distintivo.
Mas gosto bem mais de ter 40. Estou descobrindo que esta idade traz consigo mais maturidade e tranquilidade. Estou mais feliz na minha pele - e isso compensa toda a perda de colágeno.
Não existe a roupa certa. Depois de passar uma vida insegura com o que vestir, estou aprendendo que o que importa é ser fiel aos meus desejos (vale tambén para vários outros quesitos além da moda). Se quero usar brilho, vou de brilho. Se quero ir de tênis, vou de tênis. Aprender a me vestir também é aprender a ser eu mesma.
Música transforma qualquer dia ruim. Se o clima anda difícil, gosto de colocar o fone e botar Madonna ou Fleetwood Mac no último volume e cantar, gritar, dançar sozinha. Serve Bowie e Beyoncé também. Descobri que não dá pra cantar e dançar sem um sorriso no rosto.
Sorvete também. Seja o Tablito na areia ou o quase-finado Giandujotto na calçada (você acredita que a Bacio de Latte vai descontinuar meu sabor favorito?), não tem mau humor que resista a um belo sorvete.
Tenho cada vez menos medo de desapontar os outros. O que quero mesmo é priorizar de verdade aqueles que amo e que são importantes para mim. Agradar todo mundo é impossível - mas lutar para cuidar dos meus amores é fundamental.
Agora, amizade não pode ter cobrança. Eu odeio a coisa do "tô em falta com você". A vida é intensa e corrida demais para todo mundo - e tá tudo bem. A cobrança deixa tudo mais tenso e rígido - e o que quero com minhas amizades é leveza, carinho e apoio.
Dito isso: amigas são tudo. Para dançar em cima da mesa, para um áudio de 5 minutos via WhatsApp, para uma ligação de repente no meio do dia. Minhas amigas são meu barco salva-vidas, meu conforto e regulação de humor. Para rir e chorar, gritar e gargalhar, muitas vezes tudo junto ao mesmo tempo.
Ter tempo para ler e escrever na minha rotina é vital. Aprendi que se não reservar um momento na rotina para conseguir mergulhar num livro e exercer a minha criatividade, a vida vai perdendo a cor. Óbvio que não dá todo dia, mas a constância é aquilo que faz a diferença e que transforma o hábito em algo vital.
Jogar um naco de manteiga na frigideira, deixar derreter e passar o pão de forma é uma das melhores formas de deixar todo mundo em casa feliz. E saber como alegrar a minha família vale ouro.
Mas o meu café da manhã dos sonhos é uma chalá fresquinha da St Germain com manteiga. Temperatura ambiente, tá? Para ela ficar molinha, molinha. Aviso importante: chalá não se corta, se rasga.
Organizar os gastos no final do mês é uma chatice, mas é vital para ter controle nessa vida. Se não, acabo ficando meio delulu. Controle financeiro é uma âncora para uma vida funcional.
Ter um checklist me ajuda a dar conta de tudo. A cabeça foi feita para pensar, e não para lembrar das coisas. Uso o app do Todoist e o meu planner para dar conta da minha vida inteira.
Mas sempre me lembro que as coisas saem do controle e do planejado. E tá tudo bem. Um checklist completo e mil planilhas não garantem que a vida vai correr exatamente do jeito que a gente pensava.
Viver um dia após o outro. Eu estou aprendendo agora que a vida nada mais é do que a sucessão de momentos. Valorizar e apreciar os bons, por menores que sejam, é a chave para um dia feliz, uma semana feliz, uma vida feliz.
E lembrar: os maus momentos também passam. Tudo passa e nada dura para sempre. Na hora do loop da montanha russa, como diz a Helena, em que tá tudo de cabeça para baixo, é fundamental lembrar que aquilo também vai acabar em algum momento.
Um cinto transforma qualquer look. Demorei para aprender, mas agora viciei. Por que perdi o memorando que ensinava que o cinto era parte fundamental do saber se vestir?
Meditar. Tenho tido dificuldade de meditar nos últimos tempos, mas toda vez que retomo, lembro como é bom. É na meditação que me lembro a não me apegar demais aos meus pensamentos: eles passam, assim como os bons e os maus momentos.
Levar sempre um casaquinho. Sou friorenta e o hábito da jaqueta ou do casaquinho me protege dos ambientes onde o ar condicionado é regulado pelos homens.
Trocar o salto pelo tênis. A pandemia libertou tanta gente do salto alto e eu fui uma delas. Como é libertador poder andar de pés firmes por aí.
Ter cabelo curto dá um trabalhão para a manutenção, mas me toma 5 minutos no dia a dia. Eu amo esta liberdade e a garantia de que vou ter um good hair day todo dia. Mas o que me fez escolher o look curtinho foi um senso de identificação mesmo: acho que sou mais eu assim.
Maquiagem e uma roupa bonita me colocam num outro astral. Quando estou para baixo, faço questão de me arrumar, mesmo se for para trabalhar de casa. Passar um rímel é tão importante para mim quanto arrumar a cama.
Comprar um livro não me obriga a lê-lo na sequência. Existe também o prazer de viver rodeada deles.
Aprendi com a Bia a amar cheiros e perfumes. Um spray no travesseiro ou óleo de lavanda é tudo nessa vida. Como tenho enxaqueca, passei anos fugindo dos perfumes - mas hoje sinto um prazer único de apontar o vidro de perfume para cima, dar duas borrifadas e deixar as gotinhas caírem em mim.
O ótimo é inimigo do bom. Meu pai nos ensinou que feito é melhor que perfeito. Não tenho mania de perfeccionismo, pelo contrário: o que gosto mesmo é de produzir e colocar na rua. Acho inclusive que esta crença me ajuda semanalmente a colocar mais uma edição desta newsletter no ar.
Não vai dar pra dar conta de tudo - e a casa não cai. Tudo bem pedir delivery no dia que não deu para fazer as compras. Tudo bem deixar a cama sem arrumar de vez em quando, ou atrasar a entrega de um trabalho no mestrado. A vida é dinâmica mesmo - e estou aprendendo a não levar tudo tão a sério.
Os dias são longos na maternidade, mas os anos passam voando. Ser mãe é algo completamente exaustivo, mas eu amo. O maior privilégio da minha vida é poder ser mãe destas duas menininhas que me ensinam tanto. Não tem nenhuma encheção da maternidade que não é aliviada por uma sessão de pega-pega em casa.
Aproveitar o tempo com meus pais é outro enorme privilégio. Sou muito família e grudada nos meus pais. Cada momento que tenho com eles é um tesouro.
Família também é algo que a gente constroi. Aprendi no mestrado o conceito de fictive family: a família extendida que não é composta por laços de casamento ou sangue. São os amigos que viram parte da sua família - e eles são fundamentais.
Saber desligar dos problemas por algumas horas ou dias e aproveitar as coisas boas é um ato de sabedoria. Fugir um pouco nem sempre é algo ruim!
Não sou muito de turmas. Prefiro ter poucas e grandes amigas. (Mas a magia acontece mesmo quando elas ficam amigas entre si).
Não dormir brigado é um conselho besta para casais. Acontece. Às vezes a briga atravessa a noite e tá tudo bem. Aprendi que ir dormir chateada e ter uma noite ruim de sono me ajuda a ter perspectiva e perceber, no dia seguinte, que nem tudo precisa virar motivo de briga.
Não existe fórmula mágica para o casamento dar certo. Mas casar com meu melhor amigo, com uma pessoa que me faz rir e que me inspira a ser uma pessoa melhor é algo que faz a minha vida mais feliz diariamente.
Saber pegar leve comigo mesma é uma arte que estou tentando dominar. Sempre fui muito dura comigo e carrego culpas monstruosas que hoje sei que não me pertencem. Mas estou percebendo que consigo desconstruir este peso todo - e que a leveza que sinto transborda para meus relacionamentos. Todo mundo ganha.
Preciso de bolsas grandes. Tem que caber a bateria extra para o celular, guarda-chuva, remédios, um lanchinho... E se o dia for longo e eu for estar acompanhada, levo duas baterias. Amo ser prevenida.
Ler um bom livro é uma das experiências mais transcendentais desta vida. Você se encontra nele, se entende, compreende melhor os outros, vive outras vidas e tem a chance de simular outras escolhas. A literatura é um manual para a vida.
Levar sempre um caderninho e uma caneta para toda consulta médica. Aprendi que entendo melhor se anoto tudo - inclusive as minhas dúvidas para tirar no final da consulta. Sem escrever durante a consulta, me perco e acabo esquecendo do fundamental. (Vale para outros momentos também).
Conseguir rir das besteiras e dos erros do passado é um ato de sabedoria. Somos todos idiotas em vários momentos da vida. Olhar para trás e dar risada é transformador.
Parar de lutar contra a realidade é o que me permite andar para a frente. Isso não quer dizer que devemos ser conformistas, não é sobre isso. Mas sim entender que as coisas são do jeito que são - e reconhecer isso é o passo fundamental para aprendermos a lidar com elas e tentar transformá-las.
Por fim: só conhecemos a força que temos quando a vida exige ela de nós. Aprendi essa com minha querida Carola - e lembro sempre que sou muito mais forte do que imaginava.
Maravilhoso! Impossível não se identificar! Comemorei meus 40 anos, 40 vezes. To comemorando ainda, durante todo o ano. E aqui vc nos mostra diferentes formas de comemorar! Vou incorporar! Obrigada 💜
Feliz aniversário, Carol!!!!!!
Amaria te ler sobre fictive family; fiquei curiosa com o conceito. E ah, vou tentar lembrar de levar um bloquinho e uma caneta na próxima consulta médica, rss.
Abraços!