Um livro: A boa sorte, de Rosa Montero (Todavia). O livro novo da escritora espanhola é daqueles deliciosos de se ler. Um homem desconhecido decide descer do trem no meio do caminho e comprar o apartamento que dá de frente para a estação. Por que alguém faria isso? Por que ele faria isso? Em meio a uma série de mentiras e um apego enorme que construímos pelos personagens da obra, às vezes quase à nossa revelia, é inevitável se apaixonar pelo livro. Leitor desta news ganha 15% de desconto com o cupom VOUTEFALAR. Vai por mim.
Um filme: Grace of Monaco (Amazon Prime). Tem um tom meio de novelinha, mas é um bom filme. Conta a história de Grace Kelly, a estrela de Hollywood que se casou com o príncipe de Mônaco e virou princesa. Mas o conto de fadas termina por aí. Grace encontra uma dificuldade enorme de manter o seu senso de identidade e invidividualidade em meio às pressões da realeza. Surge o convite para voltar a atuar no mesmo momento em que Mônaco é engolida por uma crise enorme com a França. O filme é de 2014 e eu tinha ficado com uma certa preguiça, mas assisti no último fim de semana e ainda não parei de pensar nele. Vale a pena.
Um ensaio: The Age of Instagram Face, de Jia Tolentino (The New Yorker). Eu amo/queria ser a Jia Tolentino e este ensaio, de 2019, não deixa a desejar. Ela fala dos novos processos cirúrgicos que mulheres têm buscado para tentar ficar com o rosto igual ao dos filtros do Instagram e do Facetune. Como feminista, seria óbvio fazer a crítica e ficar numa posição confortável, mas a ensaísta é melhor do que isso. Ela sente na pele o desconforto e o desejo e nos convida para questionar a nossa relação com nosso próprio rosto.
Uma newsletter: Da janela, de Isadora Sinay. Isadora é escritora, tradutora e professora de literatura e tem uma newsletter que é uma preciosidade. Ela publica ensaios e resenhas e, para assinantes, manda dicas deliciosas. Como disse a Ale Garattoni nesta semana, sou a favor de pagar por newsletters com conteúdos especiais e cujos autores (e autoras) gosto de apoiar. A da Isadora é uma dessas.
Um texto: Onde está o seu diabo agora, de Aline Valek. Fiquei abalada depois da última edição da newsletter da Aline, com a sua provocação sobre como a humanidade tentou projetar tudo o que tem de ruim e proibido de si dentro da figura do diabo. Olha só este trecho - e depois vai ler na íntegra.
Tentar encontrar o diabo é a busca por projetar o mal para fora de mim, numa espécie de exorcismo. Não, o que é terrível tem que estar num outro, tem que estar no sistema, tem que estar fora de mim! E então perseguir essa pegada de contornos animalescos e perceber que me conduzia em círculos, que elas me levavam de volta para onde estão meus próprios pés, que o diabo estava, o tempo todo, do lado de dentro, em um jogo de esconde-esconde com todos os impulsos que não queremos — não podemos — assumir sozinhos.
Pegando carona no ótimo artigo da Jia Tolentino, eu recomendo muito a leitura do livro "O Instagram está padronizando os nossos rostos", da Camila Cintra, e também "Políticas da imagem: Vigilância e resistência na dadosfera", Giselle Beiguelman, que fala bastante sobre esse mesmo tema. Eu escrevi um pouco aqui https://lalai.substack.com/p/todos-estao-exaustos e aqui https://lalai.substack.com/p/espiral-38-como-lidar-com-o-tedio (na sessão "quem sou eu" dessa edição). Bjs
Amei as dicas!♡