A culpa foi da Maria Mariana. Quando Confissões de Adolescente estreou na TV Cultura eu estava na idade certa para ficar completamente vidrada. Eu queria ser como ela, que criou a série e ainda por cima vivia a personagem principal, a Diana, a escritora.
Pedi um caderno para a minha mãe, decorei a capa com papel de embrulho para presente e fotos dos meus ídolos, Madonna e Michael Jackson, e comecei a escrever meu diário. Dali para abraçar os blogs dez anos depois e começar a publicar o meu foi um pulo. Tive vários e gostava de escrever sobre o que me acontecia, o que amava ouvir, assistir e ler - um embrião desta newsletter aqui.
Mas foi só um tempo depois que fui entender que meus textos pessoais, esta mistura de crônica com reflexão, tinham sim uma fonte literária enorme para beber e crescer: os livros de memórias. Esse é gênero que parte da não-ficção e usa as técnicas da literatura para narrar a vida. Olhando a descrição por cima, dá pra confundir com as autobiografias, mas gosto de uma distinção que a escritora Mary Karr faz: o ponto com os livros de memórias não é tanto aquilo que aconteceu, mas sim a análise e a busca de sentido que o autor extrai das próprias experiências.
Não há necessidade de contar uma história linear que vai destacar toda a trajetória, vitórias e dificuldades do autor (ou autora - ou ghostwriter). Em vez disso, temos um autor que, nas palavras de Karr, está "tentando dar sentido ao passado". O significado do que aconteceu é tão importante quanto os fatos em si, se não mais.
Me apaixonei e parti em busca do maior número possível de livros de memórias que eu pudesse encontrar. Eu amo a honestilidade e a vulnerabilidade com que os autores exploram suas próprias histórias, a verdade que encontro nestes livros tão pessoais, a análise e reflexão nesta busca tão subjetiva. É lindo isso: quando lemos a história do outro naquele lugar de tanta transparência, encontramos também partes nossas escondidas.
Recentemente dei de cara com uma descrição perfeita desta situação em um ensaio de Phillip Lopate:
Aquele arrepio de reconhecimento próprio - equivalente ao frisson dos filmes de terror quando o monstro se olha no espelho - que todos os amantes do ensaio pessoal esperam como recompensa.
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