Como construir um processo de escrita pessoal
Dossiê #12: O que acontece quando todos os processos falham e você entra em um bloqueio
Oie!
Tenho visto em newsletters que adoro o formato de responder perguntas e dúvidas de vocês. Resolvi testar! Os assinantes pagos podem mandar suas sugestões de temas e perguntas neste formulário (anônimo) - sua pergunta pode virar tema de uma próxima edição do dossiê!
Pergunte para qualquer professor de escrita e a resposta será a mesma: se você quer escrever um livro, precisa escrever todos os dias. Este é o segredo. Todos concordam que o processo criativo depende mais do esforço do que da inspiração, da persistência do que do gostar do resultado, da disciplina do que eventualmente até do talento. Foi James Baldwin que disse:
“O talento é insignificante. Conheço um monte de ruínas talentosas. Para além do talento estão todas as palavras do costume: disciplina, amor, sorte, mas, mais que tudo, resistência".
Mas quando a minha professora do mestrado insistiu que eu devia separar trinta minutos diários obrigatórios para o meu livro, resolvi abraçar a prática. Eu dou conta de trinta minutos por dia. Ela me explicou o motivo: quando trabalhamos diariamente no mesmo projeto, ele assina um contrato de aluguel de longo prazo em nossas mentes. Mesmo quando estamos dirigindo, tomando banho, vendo TV, uma parte nossa continua a pensar e trabalhar. Começam a surgir as ideias em momentos inesperados: uma lembrança, uma cena boa, uma questão. Soluções aparecem quando não estamos procurando por elas.
Comecei a viver rodeada de bloquinhos de nota e de mensagens de áudio para mim mesma no WhatsApp - para anotar as tais ideias. Nos últimos vários meses, segui à risca a prescrição. Deixei o arquivo aberto no meu computador, separei um horário para escrever mesmo nos dias mais insanos e fui em frente. Vi um livro começar a nascer - e me apaixonei por ele.
No entanto, quando travei completamente há algumas semanas, achei que precisaria mudar os tempos verbais: do presente do indicativo para o pretérito imperfeito. O livro que eu estava escrevendo. Sem a resistência diária, o que sobraria daquele projeto?
O problema começou quando senti o texto todo ficar perfumado. Ai que brega. Como escrever uma história bonita sem deixar tanto açúcar escorrer da tela? Passei a não conseguir olhar para o arquivo sem morrer de ódio e achar tudo aquilo profundamente clichê. Sentia que havia chegado à fronteira da minha habilidade. Um muro que gritava: esta história não serve! Ou talvez seja apenas você que não consegue!
Me escondi no dia-a-dia. Com tantos projetos do mestrado e freelas para escrever, ficou simples dizer que eu não tinha tempo e que voltaria para o livro quando as coisas estivessem mais calmas. Um autoengano barato: como se existisse este tempo mítico das Coisas Calmas. Eu me conheço, elas nunca ficam assim. Mesmo nas pausas, nas entressafras, eu me coloco mais tarefas, novos projetos, mais responsabilidades.
Para piorar, sou viciada em ler sobre os processos de escrita dos outros. O
falou na semana passada na newsletter dele sobre o efeito que o acomete quando ele lê sobre o processo de outros escritores e artistas, que ele apelidou carinhosamente de SHITT: Should I Try That? Será que eu deveria testar aquilo? Descobri que não tenho anticorpos para o SHITT.Continue a ler com uma experiência gratuita de 7 dias
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