Como escolher o próximo livro?
Dossiê literário #6: Entrevistas com Rodrigo Casarin, Fabiane Guimarães, Sarah Germano e Bárbara Bom Angelo
Deveria haver no circo uma atração nova: como escolher o próximo livro. Essa modalidade reuniria a expertise de todos os artistas circenses. Acrobatas para filtrar todos os interesses e encontrar uma leitura para amar, equilibristas com os vários pratinhos de clássicos e livros contemporâneos, contorcionistas para encaixar tantos desejos em um espaço de tempo tão curto e um domador de feras para encarar a fúria dos livros que estão na estante aguardando a sua vez pacientemente e são ultrapassados por uma novidade qualquer. Uma ilusionista também seria uma boa ideia: só ela para fazer caber tantos livros na minha estante.
Este é um tema perene na vida de quem ama ler. O desafio é da ordem da física mesmo: é impossível ler tudo o que quero nesta vida. São muito mais livros do que tempo disponível. E o pior: ao terminar a leitura de um livro especial, ele parece que convida uma turma inteira para despertar a sua vontade. São as obras do mesmo autor, aquelas que serviram de referência para ele ou ela, e todas as outras que navegam pelos mesmos temas daquela obra.
Ralph Waldo Emerson fala do processo de aprendizagem como uma série de círculos concêntricos:
"A nossa vida é um aprendizado sobre a verdade de que, ao redor de cada círculo, outro círculo pode ser desenhado; de que não existe fim na natureza, mas que todo fim é um começo."
Quanto maior for o seu círculo, maior é a fronteira que ele toca que encosta em tudo que é desconhecido. Quanto mais você sabe, mais reconhece que falta você aprender. Quanto mais você lê, mais livros entra em contato que despertam o seu desejo.
Estava com tudo isso na cabeça quando comecei a ler “Como organizar uma biblioteca”, de Roberto Calasso (Companhia das Letras). No livro, o ensaísta italiano fala muito sobre a atividade da leitura. E ele revela muito sobre como podemos levar a leitura mais a sério se tentarmos abrir mão do controle que queremos exercer sobre ela.
"O leitor verdadeiro está sempre lendo um livro - ou dois ou três ou dez -, e a novidade chega como um incômodo - às vezes irritante, às vezes bem-vindo, às vezes também desejado - no interior daquela atividade ininterrupta."
Não existem tantas regras assim. Você não precisa ler um livro de cada vez e não é obrigado a ir até o fim. Você pode - e deve - anotar, grifar, deixar todo tipo de rabisco que mostre que você leu de fato aquele livro. (Eu deixo de pontos de exclamação e interrogação a corações). O nosso envolvimento acontece pois quando lemos, vivemos um "enovelar das leituras", nas palavras Calasso. Cada livro que você já leu antes informa as leituras dos seguintes, dá a elas mais profundidade e relevância.
Não tem problema comprar um livro e não ler. Calasso tem uma teoria sobre isso:
"O essencial é comprar muitos livros que não são lidos na hora. Em seguida, depois de um ano, ou de dois anos, ou de cinco, dez, vinte, trinta, quarenta, poderá chegar o momento em que se pensará ter necessidade exatamente daquele livro - e quem sabe ele poderá ser encontrado numa prateleira pouco frequentada da própria biblioteca.
Resolvi fazer algo diferente para esta edição e conversar com alguns leitores sobre como eles escolhem livros e o que buscam nas leituras. Fiz quatro entrevistas: um crítico literário, uma escritora, uma livreira e uma acadêmica. Cada um trouxe a sua perspectiva e relação com a leitura. Achei interessante ver como cada um deles tem clareza dos seus próprios interesses e ver como eles guiam a decisão de qual livro ler. Vem conferir estes bate-papos:
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