Escrever me torna uma leitora melhor

Dossiê literário #7 com a ajuda de Joan Didion

Crédito: DALL-E (Com criação minha)

Eu devia estar com uns oito anos, não sei ao certo. Era uma tarde de sexta-feira, disso tenho certeza. Naquela noite teríamos um jantar em família e eu estava preparando a minha surpresa especial para todos. Eu havia copiado uma entrada da enciclopédia.

Lembro que as reações não foram exatamente as que eu esperava. Eu tinha certeza que iria deixar todos maravilhados com aquilo, mas as caras dos meus tios e tias foram menos de admiração e mais de curiosidade: por que você fez isso?Eu queria escrever, mas não tinha assunto. A minha estratégia foi então copiar uma entrada inteirinha da enciclopédia. Lembro até hoje: era a da Matemática. Meus tios não devem se lembrar daquele dia, mas eu tenho ele gravado em mim com a mesma tinta da caneta Bic azul que usei. O prazer de escrever algo que ninguém havia me pedido.

Me lembrei daquele dia quando assisti ao documentário sobre a Joan Didion no Netflix. Em um certo momento, o filme conta como Didion gostava de copiar os contos de Ernest Hemingway. A ideia era tentar ver como ele fazia para estruturar as frases. 

Eu achei a história interessante, mas só fui entender mesmo o que Didion estava buscando quando a minha professora do mestrado nos pediu para imitar o estilo da própria Didion para escrever um ensaio. Tínhamos que destrinchar o texto de Didion para ver como era construído e tornar a estrutura e o estilo visíveis.

A nossa base era o ensaio Adeus a tudo isso (publicado no livro Rastejando até Belém):

"É fácil ver o começo das coisas e mais difícil ver o fim. Consigo me lembrar agora, com uma clareza que me faz contrair os nervos de trás do pescoço, quando Nova York começou para mim, mas não sou capaz de sublinhar o momento em que terminou, não consigo contornar as ambiguidades, as queimas de largada e as decisões suspensas e apontar o lugar exato da página em que a heroína deixa de ser tão otimista quanto já havia sido."