Moratória digital
Edição #302: Mais um burnout e como impor uma caixa de entrada zero à força
Estou inadimplente com muita gente. Devo, não nego. São centenas de mensagens no WhatsApp, dezenas e dezenas de emails, comentários da newsletter, DMs e afins. Mas depois de intensas rodadas de renegociação comigo mesma, nas quais me prometi, jurei e bati o pé que responderia todo mundo naquela mesma semana, eu cansei de falhar moralmente comigo e com todo mundo.
Esta crônica é então um aviso de que entrei em recuperação judicial digital. Para poder funcionar em 2025, cheguei à dura decisão de que precisava poder arquivar tudo sem dó. Sempre sentia que precisava responder todo mundo para quem estava devendo para depois poder retomar às mensagens mais recentes. Mas a lógica é falha: entendi, com meses de avisos de não lidos acumulados em todas as caixas de entrada possíveis, que simplesmente não vai dar.
Como ler todas as edições da newsletter que perdi até aqui? Como responder todos os emails? Quanta coisa não perdeu o timing e deixou de ter um sentido de existir - e de precisar de uma resposta minha?
Declaro então uma moratória digital. Confio que meus credores serão gentis e farão o perdão das dívidas possíveis. Tenho certeza que os portadores das pendências concretas entrarão em contato breve comigo. Vai ser o mais justo dos “ei, sumida, lembra de mim?”.
Sei que nem todos serão compreensivos assim. Por isso, acho importante explicar: estou saindo de um burnout. Pois é, tive mais um no final do ano passado. A notícia não será surpresa aos leitores mais atentos: venho falando há tempos de não estar bem, dos caldos da vida, da exaustão, do não conseguir escrever. Esta moratória se deve não a uma crise financeira, mas sim a uma crise emocional.
(Este é o meu segundo esgotamento - foi, inclusive, do primeiro que nasceu esta newsletter. Eu conto mais deste processo neste texto aqui).
Quem já bateu o limite sabe que é inevitável pensar sobre o que a levou até aquele ponto - e a pensar em soluções e novos acordos para descansar e retomar um ritmo de vida mais saudável. Entre vários ajustes e suspensões, cheguei à conclusão de que impor uma caixa de entrada vazia à força era uma medida que faria meu coração cantar mais leve.
Se você é um dos afetados por esta moratória digital, te mando um aceno e um reconhecimento. Não é legal esperar por uma resposta que nunca chega. Se for uma questão muito importante, me escreve de novo. Prometo que desta vez vou responder assim que possível. Agora, se não for, leve em consideração a saúde emocional desta autora. (Mas se adorar o texto, deixe um comentário para fazer feliz o ego frágil de quem escreve online).
Que desse burnout surja algo lindo também depois... quanto à caixa de entrada, também tô precisando zerar a minha, socorro! Beijo, Carol, fica bem!
Carol, espero que você consiga se recuperar com a mesma leveza, sabedoria e humor que suas palavras transmitem.