Quando era adolescente, morria de preguiça de ir ao cabeleireiro. Pensava que era coisa de perua, quanta frivolidade. Ia porque precisava, mas contava os minutos para sair daquele lugar tão cheio de frescura e superficialidade. Depilação, manicure e olhe lá: mal tinha paciência para arrumar o cabelo.
Tanto que no dia em que meu marido iria me pedir em casamento, minha mãe (que já sabia do plano completo) teve que me convencer a ir fazer uma escova. Naquela noite, eu daria um jantar em casa para vários amigos. Arrumei a casa, escolhi as flores, separei o vestido e não me passou pela cabeça a ideia de ir fazer uma escova – tive que ser empurrada pela minha mãe.
Mas o tempo passa – ah, se passa.
De um tempo para cá, qualquer evento é desculpa para eu correr para o salão. Gravação, almoço de família, lives, call com cliente, jantar com o marido, reunião na escola... Virei a rainha do pacote do salão.
Na pandemia, um dos meus maiores sofrimentos tem sido justamente o fato que não posso ir ao cabeleireiro assim, com essa facilidade toda. Distanciamento social salva vidas, e existem prioridades e prioridades, né?
Mas uma das coisas que mais sinto falta é poder ir toda semana fazer a mão e fazer uma escova. O dia em que vou para depilar, arrumar a sobrancelha, fazer uma hidratação e o que mais precisar é um dia feliz. Cortar o cabelo, então, nem se fale: eu planejo com cuidado e carinho, escolhendo a melhor data possível.
É vaidade, sem dúvida. Mas existe um motivo mais profundo.
O salão virou o meu lugar. Não é a minha casa, nem o escritório. Não sou obrigada a nada lá. Ninguém me chama, ninguém me cobra, ninguém me pede nada. Deixo o telefone no silencioso, levo um livro e peço uma Coca Zero (ou pedia, antes da pandemia, mas sei que este dia glorioso há de voltar). Vou para um espaço só meu, onde posso fazer o que mais gosto e, de quebra, sair de lá me sentindo mais bonita do que quando entrei. Minha lista de leituras sempre agradece as minhas idas ao cabeleireiro.
Recentemente, cortei o cabelo e fiz um corte mais radical. Foi terapêutico, juro. Conversei com a minha cabeleireira, trocamos confidências, saí transformada.
Outro dia, estava conversando com uma amiga e ela me contou que estava louca para tingir o cabelo, mas morrendo de preguiça pois teria não só que passar horas no salão, mas também fazer a manutenção da cor de dois em dois meses. Ela tem duas filhas pequenas, trabalha trezentas horas por semana, mal tem ajuda em casa. O meu conselho?
Subverta essa noção do cabeleireiro como o templo da futilidade. Foi o que eu fiz.
Eu tive a época em que fazia um alisamento que exigia pelo menos umas 3 horas por sessão. Paraíso aquilo. Eu até pedia meu almoço no salão. Também já pintei muito – e todo mundo sabe que aquilo leva um tempo enorme para terminar. Agora que fiz um corte de cabelo bem mais curto, se engana quem acha que meu tempo de salão vai diminuir. Ele vai me exigir uma manutenção mensal – e não vejo a hora de ter que ir para cada um daqueles cortes.
Porque naquele lugar, não tem filho, não tem marido, não tem chefe nem cliente. É a minha Passárgada particular. Não é futilidade – é saúde mental.
Se você quiser me julgar, fique à vontade. Eu poderia ter encontrado outra forma de ter um lugar de paz e tranquilidade para ler e tomar um refrigerante sem culpa alguma? Talvez – mas este desafio é mais fácil na teoria do que na prática (e quem é mãe há de concordar).
Todo mundo precisa ter um lugar para onde fugir quando tudo fica pesado demais, quando precisa de um tempo sozinhe, quando a paz e o silêncio não se fazem presente. No que local eu encontrei, tenho todo o espaço que preciso para fazer o que amo – e de quebra saio de lá com o cabelo maravilhoso.
Até que fui esperta.
Queria amar salão. Mas me gera ansiedade saber q vou ficar lá sentada por horas sem assunto e sem a capacidade de me concentrar em nenhum livro. Amo mesmo as raras oportunidades de ficar sozinha em casa
Também adoro o momento salão e fui impactada por não ter a mesma liberdade pré pandemia. É um refúgio!