Levei um tombo há duas semanas. Não o do tipo de joelho ralado e mãos sangrando, mas daqueles em que você vai num buraco e não consegue mais sair. A vida fica cinza e sem graça, a paciência se esvai e o mundo inteiro parece estar contra você.
Começou com uma intoxicação alimentar: uma noite inteira em claro passando mal a ponto de não querer descrever aqui as indignidades que sofri. No dia seguinte, meu corpo foi tomado de urticária. Nunca tinha tido uma crise alérgica - nem mesmo tomado um Allegra básico - então não sabia lidar com a coceira. Parecia que eu tinha enfiado os braços e as pernas em vespeiros.
A única solução foi o pronto-socorro: soro para hidratar e um anti-histamínico para conter a urticária. Levei alguns dias para me recuperar e passei um Carnaval embalada no Gatorade e na água de côco. O meu bloquinho foi assistir aos filmes do Oscar.
Quando estava já começando a me sentir melhor, veio uma gripe daquelas. Testei negativo para COVID e influenza, mas a gripe genérica não deu bola para a ausência de rótulos mais chiques e deu as caras com tudo aqui. Minha médica acha que a intoxicação foi tão forte que me deixou completamente sem imunidade.
O resultado? Quase duas semanas de cama. E aí vem o tombo: é impossível manter o bom humor, o otimismo e a paciência depois de tantos dias na horizontal. Fiquei amarga, reclamando de tudo e de todos.
Deixei a peteca cair no trabalho, no mestrado e aqui na newsletter também. Olhava para o aplicativo de gestão de tarefas e via linhas e mais linhas vermelhas, cada atraso bem destacado. As meninas começaram a reclamar de saudades de brincar comigo - até a Isadora, que parece que nasceu só tendo olhos para o pai.
Quando fico neste estado, transformo qualquer contratempo em uma ofensa pessoal. Fiquei briguenta, mal humorada, reclamona. Desleixada também - com tanto tempo sem sair de casa, o cabelo curto que exige cortes periódicos virou um capacete rebelde. As unhas cresceram, a sobrancelha ficou deformada.
Até ontem. A Bia veio me perguntar o que ela podia fazer quando ficava brava, triste e irritada. Eu contei pra ela os meus truques, sem perceber que estava dando a mim mesma a receita para sair do buraco.
Contei pra ela como a melhor coisa nessas horas é escrever: coloco no papel tudo que está me incomodando. Tiro sarro de mim mesma e me obrigo a olhar a situação de fora. Ela reclamou que não gostava de escrever, então continuei a dar ideias: cortar o cabelo! Ouvir uma música que adoro! Inventar um look diferente com as roupas do armário!
Ela seguiu de cara amarrada até achar no armário a própria solução: aquele joguinho Genius, que ela até tinha esquecido que tinha e que a deixou entretida até o mau humor passar.
Já eu voltei para o meu quarto, marquei hora para cortar a juba, coloquei “Vampire”, da Olivia Rodrigo, pra tocar (adoro, me deixa) e comecei a rascunhar esta edição. Ela foi escrita na correria, pois a Bia ia viajar com a escola e tinha uma mala para montar de última hora. Revisei o texto no bloco de notas do celular e agora vou apertar o botão “Publicar” e correr para o lavatório para tirar a tinta e ir para o corte.
Ah, Carol. Já me senti tanto rolar ladeira abaixo, que te entendo perfeitamente. O famoso, "quando nada mais pode piorar, piora", então, é isso. Mas que bom que você já nos vem com as dicas para uma recuperação gostosa e amorosa. Sim, amorosa, porque quando a gente está lá no buraco, a gente deixa de se amar. E é a amorosidade por esse ser que às vezes tanto nos perturba - nós mesmas - que faz com que tudo melhore. Muito bom. Bjka.
nada como cortar o cabelo para ressurgir das cinzas <3 hahaha
feliz que você encontrou seu caminho de volta - nas palavras e fora delas!