Existem dois tipos de pessoas: quem acha que coincidência é uma besteira, uma mera representação das probabilidades em ação, e aqueles que vêem a coincidência como um sinal. Dentro deste segundo grupo, aliás, não é incomum você ouvir que coincidências não existem - elas são apenas uma prova da sincronicidade que opera no universo.
Antes que você me pergunte a qual grupo pertenço (algo não muito difícil de adivinhar, até pela escolha do tema desta edição), vou contar uma história que aconteceu comigo há algumas semanas.
Eu estava há tempos para marcar uma conversa com a agente literária que está me ajudando a dar forma ao livro que vai reunir as melhores crônicas desta newsletter (ops! spoiler!). As agendas nunca batiam e, além disso, todo mundo sabe que a vida é composta por pressões e urgências do dia-a-dia, doenças, viroses, atrasos, trânsito, férias, feriados, reuniões na escola, clientes ansiosos, siricuticos de filhas e afins. Quando finalmente conseguimos alinhar os planetas as agendas, marcamos um almoço pertinho do meu escritório.
Combinamos ao meio-dia em um restaurante, mas me atrasei em uma reunião e desci dez minutos depois. O tal restaurante já estava transbordando de gente e precisei mudar de planos rapidamente. Eu estava com o Luiz e nossos colegas de trabalho (você sabia que eu trabalho com minha cara-metade?). Fiquei perdida por um momento e resolvi copiar a turma: fomos todos para um outro restaurante saudável-fofinho que tem aqui ao lado.
O lugar ainda estava vazio, eles foram para uma mesa maior nos fundos do restaurante e eu escolhi, de forma aleatória, uma das várias mesinhas para duas pessoas perto da entrada. Sentei de costas para a parede, peguei o celular e fiquei distraída até a Débora chegar. Posso dizer que somos amigas de longa data: ela foi a editora do meu primeiro livro, publicado pela Saraiva, lá atrás, em outra vida, quando eu só escrevia sobre finanças.
Ela chegou, abraços, beijos, desabafos de agenda, uma boa meia hora de atualização sobre a vida de cada uma. Quando finalmente criamos espaço para pedir o almoço e falar do livro, a Débora levantou o olhar e quase caiu da cadeira: na parece atrás de cada mesa, havia um livro para decorar o ambiente. O livro que estava acima de mim era o Mil Folhas, da Lucrecia Zappi - que, além de narrar a história dos doces, foi o livro que a inspirou para a nomear a agência literária dela.
Ou seja: depois de meses para conseguirmos marcar uma reunião que virou almoço, de trocar de restaurante por conta de forças maiores e escolher uma mesa como quem joga dados, conseguimos fazer a nossa reunião debaixo do livro que deu origem à agência da minha agente literária.
Se você for do tipo que acha que coincidências são uma baboseira new age e tiver uma inclinação matemática, peço o favor de calcular as chances de isso acontecer. Algumas perguntas para nortear: como escolhemos um restaurante ao invés de todos os outros que ficam num quarteirão gastronomicamente povoado do Itaim? Quais as chances de eles serem decorados com livros? Quais as chances de nos sentarmos justamente abaixo daquele que é o atual número 176.815 entre os mais vendidos na categoria Livros na Amazon e que deu nome à empresa que justifica a realização daquele almoço?
Por outro lado, se você tiver alguma propensão a ver um je ne sais quoi nas coincidências da vida, quero ver você discordar de mim ao achar que este foi um sinal que o Universo mandou (veja bem, ele agora vem até em U maiúsculo) para dizer que eu estava na hora certa no lugar certo com a pessoa certa para fazer este livro. A sensação que tive foi de um pequeno empurrão: continua, é assim mesmo, vai por aí.
E sim, o livro está caminhando. A melhor parte é ter gente tão legal apaixonada pela idea quanto eu. Escrever é solitário, mas editar e publicar não precisa ser.
Parabéns pelo livro, Carolina!
Em 2018, quando eu morava em Brasília, comecei a fazer análise com uma analista que, durante e após a pandemia, eu só vi online. Gostava demais dela, mas nossas agendas se desencontraram. Passam-se os anos, me mudo para o Rio de Janeiro, vou para análise com outra pessoa, outras narrativas se constroem...
Dia desses fui visitar SP, e pra me despedir da cidade em plena segunda, mesmo com a chuva, fui pra Liberdade e tive uma linda surpresa. Dentro de um mercadinho qualquer, do nada escuto alguém me chamar: minha antiga analista, que eu não via presencialmente há tantos anos, também passeando ali <3
Nada é por acaso, coincidências não existem e acredite piamente nas boas energias que o Universo te ofereceu neste episódio. O livro será lindo! Beijos.