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Sobre ancestralidade e literatura indígena

Entrevista com Lucia Morais Tucuju
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A entrevistada desta semana é Lucia Morais Tucuju. De origem do povo Galibi Marworno, e é especialista em Literatura Infantil e juvenil e professora de pós graduação em Literatura Étnico-Raciais- Estudo Afros Brasileiro. Autora de Tucumã (2021, Páginas Editora).

Você pode conferir uma parte do nosso papo em vídeo. Abaixo, uma versão editada e condensada da entrevista.


Como a sua origem indígena influencia a sua obra?

Quando eu trago  as minhas memórias, quando eu falo da minha ancestralidade, de onde eu vim. Tem com uma pegada de disseminar mesmo, de tirar aquela coisa estereotipada, de esclarecer muita coisa. É muito bom poder mostrar nossa origem, falar, gritar, dar a voz, poder falar com propriedade de onde nós viemos. Através da literatura a gente pode se mostrar, porque antigamente era preso. A gente não podia falar, era o escritor indigenista que falava por nós e ele colocava da forma que queria e passava com a interpretação dele. E hoje em dia, os próprios indígenas estão escrevendo e isso é muito bom.

Você acha que a literatura tem um papel na forma como o indígena é visto na sociedade hoje?

Tem um papel muito importante, porque é onde o indígena pode  gritar, se manifestar, pode trazer a cultura dele, a verdade dele. Através da literatura indígena ele pode se mostrar sim, pode colocar todas as questões.

Você um aumento no interesse pela obra de autores e autoras indígenas nesse momento?

Vejo mais por parte dos educadores e dos pais - eu acredito que ainda está engatinhando. Gostaria que fosse bem mais, mas nós estamos começando. Já tem também um movimento de pessoas envolvidas, mas precisa crescer muito, precisa ter muito mais envolvimento. O professor não vai dar o que não sabe, ninguém vai dar o que não tem, então é preciso ter esse foco no professor, proporcionar a ele oficinas, cursos, dinâmicas, apresentar para eles escritores, contadores de histórias indígenas, artistas indígenas, ilustradores, para que ele possa conhecer toda essa variedade, pluralidade que existe na cultura indígena, porque se o professor tiver isso ele vai proporcionar pra criança, pro seu aluno.

A forma como era apresentada a cultura indígena era estereotipada. Já começa quando chama de índio, pois cai na coisa do preconceito, do estereótipo. O correto é dizer indígena e povos originários - que possuem várias etnias. Não dá para colocar tudo num balaio só - o povo indígena lá do Amapá é diferente do povo indígena do Sul, até as árvores, os peixes são diferentes, as características.

Você tem um trabalho como ativista de bibliotecas comunitárias. Quais de são as autoras indígenas que todo mundo devia ler? E qual livro mais te marcou?

Vou citar as que eu admiro muito. A pioneira é a Eliane Potiguara e o livro Metade Cara, Metade Máscara é muito marcante, é muito forte. Mas também preciso citar Márcia Kambeba, que escreve poemas maravilhosos; Aline Pachamama tem o livro Guerreiras, que mostra o trabalho de artesãs; Eva Potiguar, com quem estou junto numa coletânea de mulheres que será lançada em breve; Zélia Puri; Auritha Tabajara, que escreve cordeis.

Expediente

Texto: Carolina Ruhman Sandler

Colagem: Roberta Chvindelman

Transcrição: Camila Mazzini

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Carolina Ruhman Sandler