Na edição de hoje, a entrevista é com Giovana Madalosso. Nascida em Curitiba, em 1975, é autora dos romances Tudo pode ser roubado (Todavida, 2018) e Suíte Tóquio (Todavia, 2020) - falei deles aqui e aqui.
Você pode conferir uma parte do nosso papo em vídeo. Abaixo, uma versão editada e condensada da entrevista.
Suíte Tóquio narra o sequestro de uma criança pela babá. Nele, você trabalha muito os medos da mãe da criança. Esta foi uma forma de você lidar com os seus próprios medos na maternidade?
Com certeza. Todo livro parte muito da nossa experiência pessoal. Este livro tem algumas centelhas minhas, dos meus medos, da maternidade e também da minha falta de conexão imediata, porque quando minha filha nasceu eu não senti imediatamente aquele amor que prometem pra gente que a gente sentiria. Esse amor e afeto vão sendo construídos - e todas essas questões que eu senti em torno do nascimento da minha filha me deram material para trabalhar esse livro. Não só isso, também tudo que eu observei em volta de mim, da relação das babás, foram coisas que eu trouxe pra dentro da narrativa.
Tem uma passagem que você fala que uma forma eficiente de conhecer alguém é ver o que ela levaria de imprescindível num baú. O que você leva no seu baú?
O meu baú muda muito de configuração, mas hoje eu diria que sempre vai ter um livro (provavelmente meu livro preferido que é Detetives Selvagens, de Roberto Bolaño, ou um livro de poesia), um par de sapatos muito confortáveis (acho que talvez esse seja o maior luxo que se pode ter na vida, porque eu adoro andar), uma capa de chuva e, claro, um papel e uma caneta.
Tanto Tudo Pode ser Roubado quanto Suíte Tóquio falam de roubos. O que não dá pra ser roubado?
Tempo - e acho que talvez essa seja a coisa mais preciosa que existe. Todo mundo está sempre tão preocupado em ganhar dinheiro e acho que a gente não percebe quanto tempo perde e coloca onde não deve - e é difícil conseguir esse tempo de volta. Às vezes, é difícil angariar um tempo no próprio presente, porque a nossa ansiedade também rouba o nosso tempo, então esse ele é difícil de ser adquirido e mantido. E o que mais não pode ser roubado? Acho que o amor, né? O afeto, são as coisas que sustentam a gente, no meio de tanta coisa difícil que a humanidade tem passado e vai seguir passando daqui pra frente, isso aí ninguém tira de nós.
Qual é o livro que mais te marcou na tua vida e qual o livro você acha que todo mundo deveria ler?
O livro mais importante na minha vida é O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, porque passei a entender quem eu sou, porque eu sou como eu sou, porque eu faço as coisas que eu faço, as escolhas que eu fiz, porque eu fui criada da maneira que eu fui. Depois que eu li esse livro eu nunca mais consegui olhar para as coisas da mesma maneira.
O livro que eu acho que todo mundo tem que ler: A terra inabitável, de Wallace Wells, que é um livro que explica a crise do clima, que já está acontecendo e vai impactar todos nós com muita força nos próximos anos, e não em um futuro distante.
Você já está trabalhando em um livro novo?
Já sim. Quando terminei Suíte Tóquio, comecei a trabalhar no novo romance. Trabalhei nele um ano e meio quase, fazendo pesquisa. Viajei pra começar a escrever esse romance, defini os personagens, coloquei o romance de pé. Só que enquanto eu estava começando esse livro, tive uma experiência pessoal que foi muito impactante e dolorosa - e aquela história que eu estava escrevendo, que parecia tão importante, de repente ficou tão pequenininha. Achei que ela não era mais tão importante pra mim, então eu guardei aquele livro na gaveta - talvez ele volte a existir um dia. Criei então todo um novo romance que fala das questões que eu estou atravessando agora. A ficção sempre me ajuda a tentar entender as engrenagens da vida, embora a gente nunca consiga completamente.
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