Metade da minha família não entende porque faço um mestrado em Liberal Arts. Não tinha nada mais prático não? Algo que você consiga empacotar em ferramentas e técnicas para, sei lá, ganhar dinheiro? Às vezes tenho a sensação de que eles acham que minha formação é a versão acadêmica da série Seinfeld: um curso sobre nada.
Não é fácil de justificar. Uma disciplina sobre como a literatura ajudou a criar os conceitos abstratos de Oriente e Ocidente, e entender a contribuição deles no desenvolvimento de representações limitadas e preconceituosas de todo mundo que é diferente de nós. Nos semestres seguintes, aprendi sobre romances de formação e clássicos. Tive um workshop de escrita de não ficção, encarei Teoria Crítica e agora acabei de começar uma disciplina que aborda a ideia de família como uma construção social. (E, de quebra, me ajuda a entender melhor a minha família, mas isto é assunto para outra edição).
Me desdobro para explicar que o curso é um programa interdisciplinar que me permite explorar uma ampla gama de disciplinas, como literatura, filosofia, história, artes, ciências sociais, entre outras. A proposta é construir uma formação abrangente que promova o espírito crítico, a comunicação e a compreensão da condição humana.
Muitas vezes sou recebida com um olhar que já conheço bem, um olhar de confusão. Como se meu interlocutor estivesse tentando compreender por que alguém toparia gastar anos da sua vida estudando algo sem nenhum tipo de aplicação.
E mais: não fico satisfeita. Além do mestrado, quero entrar em um grupo de estudos sobre antissemitismo e sonho em participar em tantas oficinas de escrita que não sei por onde começar a listar. Estava louca também para fazer parte de um laboratório de leitura de Grande Sertão: Veredas, mas quem disse que encontro tempo?
Na minha vida acadêmica, sigo uma máxima bem pessoal e intuitiva de escolher aquelas disciplinas e cursos que despertam um interesse diferente aqui. Um desejo de compreender, de saber. É bem parecido com a lógica da leitura: faço porque quero, porque sou movida por uma curiosidade. Deixo um impulso que não sei bem de onde vem traçar os caminhos que devo seguir e confio em uma crença subterrânea de que tudo que eu aprender um dia fará sentido. É na soma de tantos interesses díspares que vou moldando a minha forma de pensar e agir. É um processo de auto-criação. Nesta salada mista de letrinhas, planto sementes do meu eu futuro. Para ser mais culta, mais sábia e empática.
Para que exatamente isso vai servir?
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