Tenho uma confissão a fazer: eu sou tímida. Morro de vergonha quando estou em novas situações sociais e tive que penar muito para conseguir ficar minimamente confortável na frente de uma câmera ou de uma plateia. É uma mistura no mínimo interessante, na verdade, porque tendo a falar demais, mas ao mesmo tempo vivo insegura do que os outros estão pensando de mim.
Quando estou extremamente segura do que tenho a falar, eu deslancho. Mas se tem aquele 0,05% de dúvida, esquece: eu nunca vou ser a primeira a levantar a mão.
Na época da escola, eu tinha uma dificuldade enorme para conseguir aqueles “pontos por participação”. Trabalho em grupo? Eu ficava torcendo para conseguir, finalmente, me tornar invisível. Quando trabalhava na redação de uma agência de notícias, sofria muito a cada vez que precisava ligar para uma fonte. (Até hoje detesto ter que pegar o telefone para qualquer coisa).
A minha questão é a insegurança. Acho que vou ser julgada e criticada, que vou falar uma abobrinha, qualquer coisa. Mas o meu lado falante é impulsivo e às vezes, vejo que me coloquei no centro das atenções sem estar necessariamente muito confortável com aquilo.
Um podcast me fez refletir muito sobre as minhas inseguranças: “Your insecurities aren’t what you think they are”, do WorkLife com o Adam Grant (as suas inseguranças não são o que parecem, em uma tradução livre). Logo de cara, Grant, que é especialista em psicologia organizacional (e autor de alguns livros que eu amo), explica a diferença entre autoestima e segurança. Autoestima é a confiança que você tem em você e nas suas habilidades, enquanto a segurança é a medida de quão estável é a sua autoestima. Ou seja: você pode ter a autoestima lá em cima, mas se alguém te questiona e você é inseguro, tudo aquilo vai por água abaixo.
Um dos maiores erros que você pode cometer, segundo Grant, é buscar aprovação externa. Quando a opinião dos outros importa demais, você pode acabar numa fria, pois é impossível agradar todo mundo o tempo todo. “Se você baseia a sua autoestima na aprovação externa, a sua confiança sempre será instável”, afirma.
Que tapa na cara. Na hora que ouço isso, eu percebo: passei a vida inteira buscando validação externa. Dos meus pais, dos meus professores e professoras, chefes, amigues, namorados e do meu marido.
Grant oferece uma saída: escolher a dedo quem são as pessoas cuja opinião tem realmente peso para você. Se não dá para agradar a todos, quem você realmente quer agradar?
Isso é algo difícil para os inseguros nas redes, onde o sucesso é sinônimo de visibilidade. Quem falou disso de uma forma brilhante foi a Luciana Andrade na sua .flows magazine. Ela citou o discurso Michaela Coel (I May Destroy You) no Emmy, em que ela fala sobre a “necessidade de estarmos constantemente visíveis - pois a visibilidade hoje em dia parece de alguma forma equivaler ao sucesso”. Para Luciana, a visibilidade parece ter se tornado “compulsória” – vale muito ler a análise dela aqui:
Esta obrigação de ser visível, de postar e comentar e discutir o tempo todo nas redes, se não for acompanhada de muita segurança, vira algo tóxico na velocidade da luz.
Adam Grant traz uma pista para lidarmos com este problema: focar menos na forma como parecemos para os outros e mais em como podemos melhorar as nossas habilidades. Para isso, precisamos olhar para as nossas motivações. A psicologia social considera que existem duas fontes de motivação: a quem vem de fora (extrínseca) e a que vem de dentro (intrínseca). Se você faz algo porque ama fazer aquilo, usa a sua motivação intrínseca para realizar e crescer. Por outro lado, se você busca aprovação, validação e sucesso, depende da motivação extrínseca.
“Pesquisas mostram que temos menos chance de desistir depois de fracassos se mudamos o nosso objetivo de imagem extrínseca para a maestria intrínseca”, destaca ele. Vejo um eco disto na minha vida e nas mudanças que tenho vivido. Pela primeira vez, comecei a buscar a minha própria aprovação acima de qualquer outra.
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Se eu me sinto insegura com muitos dos textos que envio para vocês semanalmente? Muito. Por isso leio, releio, reviso e edito. Peço a opinião de quem eu sei que vai trazer uma visão construtiva. Trabalho em cada um deles com afinco, sem correria e com prazer. Ao final de cada semana, quando vejo o resultado final, sou tomada de um orgulho que me preenche de uma forma diferente, especial. É na busca desta sensação que eu escrevo aqui semanalmente.
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Muuuuito obrigada pela menção! Adorei sua news! Também sinto essa insegurança semanal a cada texto que publico, pra mim tem sido uma experiência muito rica voltar a escrever em público - e por enquanto tenho descoberto muitas coisas boas e ótimas conversas têm surgido ♥️ Beijos!