Às vezes, não sei como o Luiz me aguenta. É sério. Ele, que é todo organizado, a encarnação viva do arquétipo do virginiano, foi se casar logo com uma bagunceira como eu.
Alguns dias atrás, fui cortar o cabelo (uma vitória pandêmica, uma conquista em pleno puerpério, um motivo de celebração). Passei horas escolhendo a minha roupa. Como acabei de ter uma neném, as opções são reduzidas – mas eu queria algo diferente. Para quem não sai de casa há tanto tempo, uma ida ao salão vira um evento digno de nota. Acabei escolhendo uma calça de linho, uma blusa listrada e um blazer marrom. Pra completar, coloquei salto alto. Saí reluzente, marchando rumo à garagem.
Quando cheguei em casa, fui direto ao banho (neurose da pandemia?). Desmonto o look e coloco tudo na gaveta de roupas sujas. Tudo, menos o blazer. O que fazer com ele? Será que precisa mesmo lavar, se fiquei só 40 minutos fora de casa? Mas e se o vírus ficou impregnado nele?
Na minha indecisão de onde colocar a bendita jaqueta, penduro-a na poltrona no meu quarto. Enquanto escrevo este texto, ele ainda está aqui – e o coitado do Luiz ainda não falou nada.
A minha bagunça tem pai e mãe: é o fruto da minha indecisão sobre o lugar certo de cada coisa com a preguiça da arrumação. Eu já nem vejo mais o blazer aqui, ele faz parte da paisagem. Por mim, poderia passar semanas aqui – até que o Luiz reclame e me peça para dar um destino para o pobrezinho. Lavanderia ou armário? Vamos, decida-se logo.
O problema é que enquanto meu marido não vence a minha inércia, o blazer continua pendurado na poltrona. Enquanto isso, o Luiz vive uma luta silenciosa e trágica dentro de si – depois de dez anos de casados, eu já conheço o roteiro. É o ‘preciso respeitar o espaço e a individualidade dela’ versus o ‘eu não aguento viver num chiqueiro’. Uma hora, algo explode. Se ele estiver sob muita pressão de um cliente, então, sai de baixo: é briga na certa.
Eu fecho o tempo, num misto de culpa e cansaço de viver sempre a mesma briga. O pior é que eu sei que ele tem razão: o certo é dar logo um destino para aquela bagunça, deixar a casa organizada e, de quebra, investir na felicidade conjugal. Tudo isso apenas guardando um blazer. Quem diria.
Enquanto isso, escrevo. Quem sabe se ele ler, vai pegar mais leve comigo. A esperança é a última que morre. (Fora que é mais fácil compartilhar o texto do que decidir onde guardar o bendito blazer).
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Me identificando mais uma vez! Inclusive com o nome do marido. 😅😅😅
Sigo amando seus textos. Descobri uma característica sua diferente da minha rsrsrs. Aqui a organizada sou eu. Parabéns pela ida ao salão. Por aqui consegui concluir o primeiro livro no puerpério, com muita celebração!!!