Quando o Luiz era ainda apenas meu namorado, meu pai saiu para jantar com ele e fez um alerta: cuidado, porque ela é intensa demais. Eu estava morando em Singapura na época e na hora que fiquei sabendo, só consegui dar risada. Afinal, ele tinha razão.
Eu sempre fui assim. Se um assunto me interessa, vou fundo. Na infância, gostava de ler a enciclopédia ilustrada que tínhamos em casa para entender melhor sobre verbetes tão díspares quanto Matemática e América Latina. Em pouco tempo, passei a fazer palestras para meus pais e o coitado do meu irmão. Esquece o macho-palestrinha – eu era a criança-palestrinha.
Na faculdade, cada matéria pela qual me apaixonava rendia horas de monólogos que eu tentava transformar, sem sucesso, em discussões. Semiótica, história do cinema, filosofia...
Quando virei repórter, a coisa ficou ainda pior: se estava na cobertura internacional, minha família tinha que me aturar discursando sobre a crise econômica na China no início de 2007. Se estava na editoria de política, só falava sobre as estratégias do PT para vencer a eleição municipal de 2008.
No fundo, acho que essa intensidade nos meus interesses acompanha uma mania de ser sabichona. De gostar de saber as coisas e achar que eu vou impressionar todo mundo com o puro volume de conhecimento. A minha fonte de orgulho próprio está mais na cabeça do que no restante do corpo.
Foi só recentemente que comecei a questionar tudo isso. A conotação negativa da palavra sabichona, a coisa de ser intensa demais (como se houvesse uma escala gradativa de intensidades)... Será que não haveria um machismo aí?
No entanto, meu irmão caçula é parecido comigo. Ele teve a fase dos tubarões, da polícia, da pintura, da cirurgia cardíaca. Todos em casa concordavam: ele é intenso também.
O que eu não estava preparada era para ter uma filha igualzinha a mim. A mania mais recente é da mitologia grega. Passamos horas discutindo os mitos, os deuses, os heróis. Ela só quer falar de Midas. Eu acho lindo, devo confessar que estou adorando e me derreto toda quando ela me chama para ler (de novo) sobre o assunto. Mas quando vou descrevê-la para alguém, pelo sim ou pelo não, evito usar a palavra ‘intensa’. A que melhor explica, para mim, é ‘única’. Essa sim, ela pode ter certeza, vem carregada de admiração.
Vamos conversar? Vem aqui bater um papo comigo:
Ahaha... acabei de ler e olha, vou passar pro meu namorado e minha mãe lerem e...concordarem..... Ótimo Carolina, amei pq a verdade é que....tbm sou assim, meio intensa!!!
Beijocas!
Obrigado por compartilhar mais essa "sacada". Acabei me identificando com o texto e parecia estar falando de mim... kkk Na real, sinto no julgamento alheio uma ponta de inveja dessa dia "intensidade", deste mergulhar de cabeça, da entrega plena ao que está vivendo. Talvez eu esteja muito enganado, mas não vejo nada de "sabichona" em querer compartilhar o que se sabe para com aqueles que realmente querem saber. Em não sendo assim, aí concordo contigo: é pura vaidade! Valeu! Obrigado.