Para Carola e João
Quando você se torna mãe, algo mágico acontece: você vira meio mãe por tabela de outras crianças. Mãe dos filhos das suas amigas, dos amigos dos seus filhos, das crianças desse mundo. O carinho é diferente - elas são um pouco suas também.
Você vibra e sofre junto, passa a se identificar com as mães. Quando fico sabendo da conquista de uma criança, meu pensamento vai direto para a mãe dela. Nas Olimpíadas, eu não vibro tanto pelos atletas, mas sim pelas suas mães - já pensou no orgulho delas?
No entanto, quando uma criança sofre, a dor da mãe reverbera no seu corpo. Quando uma mãe perde um filho, seu coração sangra junto. O luto dela é seu também.
Afinal, agora você é mãe e entende de uma forma visceral o quanto cada uma daquelas crianças é (ou deveria ser) amada. Li alguma vez, não me lembro onde, que se todos sentissem e agissem como mães, os problemas do mundo se acabavam. Ninguém mais passaria fome, a guerra seria coisa do passado. Achei na hora um pouco clichê, mas quer saber? No fundo, deve ser verdade.
Outro dia, a Bia veio fazer um desabafo: achava que não seria uma boa mãe. O tema está em alta aqui em casa desde o nascimento da Izzy.
- Mas por que você acha isso?
- Porque eu não gosto de cantar, mãe. E você me disse outro dia que cantava para a Izzy porque era isso que uma boa mãe fazia.
Fiquei com a cara no chão. Era verdade: um dia, ela estava irritada com as músicas que eu cantava para a irmãzinha e me justifiquei, meio sem paciência - disse que cantava porque era uma boa mãe. Precisei me retratar na hora:
- Não é bem assim, filhota. Eu canto porque é assim que o amor que sinto consegue sair daqui de dentro. Ser mãe é sentir um amor tão absurdo que ele precisa sair por algum lugar. De mim, ele sai cantando.
Mas ela não ficou satisfeita e seguia angustiada - a mesma angústia que já senti tantas vezes nestes oito anos desde que me tornei mãe. Então expliquei:
- Existe um truque pra saber se você vai ser uma boa mãe. Se você está preocupada com isso, quer dizer que você será uma ótima mãe. O principal é isso: querer ser. Não precisa então sofrer, porque se você já sente esse desejo e essa preocupação, isso significa que você vai ser uma mãe maravilhosa.
Ela me olhou com alívio, com aquela carinha que faz quando pensa em algo que nunca havia pensado antes. Mudou de assunto e foi brincar.
Não quero glorificar a maternidade. Ser mãe é cansativo e angustiante - ao mesmo tempo em que é o papel que mais amo exercer. Porque o amor é tão grande que às vezes transborda, sai em forma de canto e lágrimas de alegria e tristeza e histórias que muitas vezes não têm tanta graça assim para nenhuma outra pessoa - mas que pra mim, são o mundo.
Quando uma mãe sofre, você sofre junto - e sabe que não há nada que possa fazer para aliviar aquela dor. Só consegue então ficar assim: com os corações entrelaçados, bordados com fios de amor.
Vamos conversar?
Tanto amor nessa news que a mãe aqui cantou com os olhos, lendo.
Que lindo, adorei!