Querida preguiça,
Neste ano que se inicia, quero novos hábitos, mais energia e presença na minha vida. Enquanto refletia sobre tudo que desejava para 2022, recebi uma provocação: que tal escrever uma carta de despedida a tudo que não vou mais precisar no ano novo? Na hora, pensei em você.
Mas não se preocupe, pois neste nosso término, você não é a vilã. Eu passei muito tempo presa na dicotomia entre o querer fazer sempre mais e mais e o desejar parar, descansar e curtir uma pausa. Só que isso não é muito bem-visto nos nossos tempos, não é?
No nosso culto à produtividade, você passou a ser vista como a mãe de todos os vícios, pior que o cigarrinho na saideira do boteco. Aquele papo chato de “trabalhe enquanto os outros dormem”, adote o milagre da manhã e garanta o seu lugar na dianteira na corrida da vida.
Só que eu descobri que, na realidade, você não existe – e está na hora de eu abrir mão da sua presença ilusória e toda a culpa que você traz. Você me diz que o meu valor está ligado ao quanto eu produzo e me ensina a desconfiar do meu corpo e sentimentos.
Não existe preguiça: existe cansaço. Existe a necessidade de tirar um tempo antes de começar algo porque ainda não estou pronta para dar o primeiro passo. Existe a vontade de ficar um pouco mais na cama e conseguir mais alguns minutos de sono antes de a avalanche do dia começar.
Eu sei que não pega muito bem falar isso, parece até que eu estou fazendo um elogio a uma falha de caráter – mas não é nada disso. No ano passado, eu cheguei ao limite depois de ter desrespeitado por tanto tempo as necessidades do meu corpo. Aprendi a duras penas que o fato de o dia ter 24 horas não significa que devemos preencher cada uma delas.
Então neste ano, não quero mais ser refém desta crença em você. Eu sei que não é fácil: envolve aprender a compreender os ritmos e ciclos, ouvir o que o meu corpo diz e navegar a difícil linha entre o autocuidado e a complacência.
E olha só: tenho muito a realizar neste ano. Quero poder curtir minhas filhas e deixar de lado a falta de pique para brincar. Quero entrar no mestrado, escrever e ler diariamente e construir uma nova carreira para mim. Por isso, reforço: preciso de mais energia e presença na minha vida.
Quando estiver cansada, vou descansar. Quando sentir que é hora de ficar de papo pro ar, é o que vou fazer. Mas está na hora de abrir mão desta ilusão de que isto é pecado ou preguiça.
Tenho gratidão pelos momentos de descanso que você me trouxe – mas reconheço hoje que foi pouco. Quando precisar parar, quero poder fazê-lo a partir de agora sem culpa ou carga. Meu desejo para 2022 é que a leveza substitua todo o seu peso.
Um abraço,
Carol