A escolha mais difícil foi também a mais libertadora. Ela me exigiu uma dose enorme de coragem, mas me presenteou com a alegria que só quem já realizou um sonho antigo sabe como é gigante.
Encerrei o meu negócio, o Finanças Femininas. Dizer que não foi fácil é reduzir um processo dolorido de meses a uma pequena frase – e eu não quero ser reducionista.
O Finanças Femininas era uma parte de mim. Ao longo de nove anos de trabalho, tive o privilégio de conhecer e me relacionar com mais mulheres do que poderia imaginar. As mulheres com quem trabalhei e as mulheres que acompanhavam o nosso trabalho e seguiam as dicas, que me escreviam para desabafar, pedir uma ajuda, contar suas histórias. Serei eternamente grata pela confiança que todas elas depositaram em mim – e honrada por ter feito parte da jornada de cada uma delas. Fechar foi a decisão mais difícil que já tomei.
A semente veio no burnout que sofri no ano passado, no meio da minha gravidez. A expressão em português explica melhor: esgotamento mental. Foi só quando eu me esgotei inteira é que pude me reconstruir. E essa reconstrução me trouxe a possibilidade de encontrar sonhos antigos que, para o meu choque, sobreviveram aos anos, mesmo depois de tanto tempo sem um mínimo de água ou luz do sol.
O apego gritava: você está louca! Como fechar um negócio que está dando tão certo?
Mas o coração respondeu em silêncio e o corpo inteiro assentou.
A dor foi passando conforme entendia que aquela decisão abria espaço para uma nova carreira. Eu precisei sair de um caminho todo pavimentado e florido para encontrar um novo rumo.
No finalzinho do ano passado, assisti Encanto, da Disney. O filme inteiro é lindo, mas uma cena específica me fez chorar como criança. É o momento de libertação de Isabela, a personagem que é a encarnação da perfeição, aquela que faz nascer rosas por onde passa. Ela canta sobre o custo de manter aquela imagem e compostura o tempo inteiro. Quando se permite sentir raiva, descobre que é capaz de fazer florescer muitas outras espécies além das rosas: cactos, begônias, jacarandás enormes...
Quando a personagem perfeita se permite sair do script, ela descobre que consegue criar o que nunca havia nem se permitido imaginar. Aquilo me tocou: também quero criar mais.
Acredito que as escolhas devem ser renovadas periodicamente. Quero me casar com meu marido muitas vezes ainda nesta vida. Quero poder mudar de casa, de cabelo, de ideia. E quero aceitar com paz quando o meu coração me diz que o caminho não é mais aquele.
Eu sempre me lembro da anedota da arqueóloga nonagenária que Elizabeth Gilbert conheceu e conta no livro Grande magia. A senhora descobriu a arqueologia aos 80 anos e conta como aquilo mudou a vida dela. Em dez anos, ela se tornou a referência do assunto em Nova York. E eu sempre penso que posso também ser como aquela arqueóloga.
Eu também quero criar mais do que imaginava ser capaz, me dar o direito de mudar as minhas escolhas, de começar de novo e de perseguir meus sonhos.
Esta newsletter, o meu mestrado e todos os novos projetos criativos e literários que vêm por aí são o resultado deste processo. Descobri que quando você fecha uma porta, o espaço que se abre tem o sabor da reinvenção – e ele é delicioso.
Lindo, realmente libertador expressar e viver nossa verdade
Acreditar no que criamos é poderoso demais! Eu até hoje enrolo pra ver Encanto (todo mundo recomenda). Talvez eu veja neste fds 😅