O isolamento social acabou, mesmo com a alta de casos de Covid, e fazia tempo que eu não me sentia tão isolada. Durante os dois anos pandêmicos, era fácil me manter em dia com minhas amigas. Bastava uma mensagem, um alô no WhatsApp. Um FaceTime meio estranho tinha a capacidade maravilhosa de me atualizar com tanta gente. Com todo mundo trancado em casa, eu não estava perdendo nada.
Mas agora? Esquece. Parece que maio foi o novo dezembro e todo mundo saiu todas as noites. O meu feed foi dominado por amigos saindo com outras pessoas. Amigos no bar. Amigos em eventos. Amigos viajando. Amigos em shows. E eu? Sem condições de sair para um almoço que seja.
O mestrado começou com tudo e estou meio desesperada com o volume insano de leituras. Me matriculei em apenas uma disciplina e esta foi a decisão mais acertada que podia ter tomado – não sei como conseguiria dormir à noite se tivesse mais algum texto para ler.
Junte isso a uma bebê pequena que demanda atenção e energia física, uma filha mais velha que está morrendo de ciúmes e precisando da minha presença, duas rodadas de faringite e uma de sinusite com direito a antibiótico e uma carreira nova na qual não recebo todos aqueles convites de eventos assim e pronto: minha sensação é que virei uma ET.
Não é nem mais FOMO, o tal do fear of missing out. Eu não tenho medo, tenho é certeza: estou perdendo mesmo muita coisa. É a COMO: certainty of missing out.
Ninguém mais quer fazer um call para se colocar em dia. Na pandemia, eu trocava áudios tão longos com amigas que viravam nossos podcasts individuais. Agora? Esquece. A atualização tem que rolar num bar, num almoço ou jantar.
Mas eu ainda estou em um outro ritmo. Quando o dia acaba e as duas meninas estão finalmente dormindo, tudo o que eu quero é assistir a mais um episódio de Severance (que série, gente) ou ler um capítulo de algo que não seja para o mestrado. Estou acostumada demais ao estilo de vida pandêmico edredom & Netflix.
Quando consigo combinar algo, sou atropelada por uma filha com febre, alguém com diagnóstico de Covid (quem disse que a pandemia acabou?), um trabalho acadêmico que não consegui finalizar e tem data para entrega ou algo do gênero. Meu celular quase consegue digitar sozinho: vamos remarcar para semana que vem?
Tem um lado meu que está fazendo drama? Com certeza. Da mesma forma que este texto é uma indireta para receber mais convites para sair – não que eu vá dar conta deles. A verdade, acredito, é que tem um lado meu que descobriu na pandemia o quanto gosto de ficar em casa com a minha turma. Não sei se consigo me desapegar deste estilo de vida tão rápido assim.
Mas, por via das dúvidas, me chama para um drink – sou capaz de aceitar e, quem sabe, até aparecer no dia. Como disse a Dani Arrais, convide uma mãe – mesmo que ela não vá.
Achei que só eu estava assim! Ando me esforçando para me movimentar (juro, terapeuta haha) e quando achei que ia engrenar melhor, peguei o covid sem nem sair para festas ou afins (veio do trabalho do marido). Aos poucos, espero achar o equilíbrio entre meu lugar favorito, minha casa, e o mundo lá fora que a gente resiste mas tem bons momentos e encontros. <3
To na mesma página (pra variar!); entre o COMO e a enorme dificuldade de sair da toca!