Era uma mistura perfeita de medo e excitação que, preciso confessar, havia muito tempo que não me habitava. Bem como aquele clichê: quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Estava também morrendo de vergonha. Os pais e mães de todos rondavam o brinquedo com seus celulares a postos, enquanto eu vivia um dia de Gulliver em meio àquelas crianças na fila. Uma tarde de sol em Liliput. Mas eu estava doida de vontade de brincar também.
Minha filha e sobrinha estavam falando da tirolesa havia dias, desde o momento que viram as fotos no Instagram do hotel fazenda. Havíamos acabado de almoçar e a vontade de ir descansar era muito maior do que a de encarar o sol, a grama e a fila. No entanto, estava um dia tão lindo, mas tão lindo que parecia desperdício gastá-lo na sombra.
Chamei as meninas e disse, meio na brincadeira, que também iria na tirolesa. As duas foram à loucura. Naquele momento, percebi que não dava para voltar atrás. Na realidade, nem queria fazê-lo.
Assinei o termo de consentimento e ajudei as duas a entrarem na cadeirinha e vestirem o capacete. Minha vez. Perguntei para a monitora se outros adultos já haviam brincado naquele dia e ela me respondeu “Claro! Olha lá a outra monitora indo de ponta cabeça!”. Não ajudou muito.
Entramos na fila e começamos a discutir quem iria primeiro. Minha sobrinha, que é quase três anos mais velha que a Bia, se voluntariou. A Bia iria na sequência e eu seria a última. As outras crianças não pareciam entender o que eu estava fazendo ali no meio delas. Eu era uma invasora em terreno que não me pertencia havia décadas.
As duas foram proclamando gritos de guerra, acompanhadas pelos flashes dos adultos. Enquanto aguardava a minha vez, perguntei para a monitora se eu não corria o risco de parar em cima do lago. Ela brincou que não: era mais fácil um tubarão pular dali para me pegar do que a tirolesa desistir de correr meio do caminho. Respondi que não tinha medo de tubarão, mas sim de pagar um mico maior ainda e ficar travada no meio da tirolesa na frente de todos os pais e mães do hotel.
Demos risada e logo chegou a hora de ir. Ela me explicou que eu precisaria dar um passo para fora da estrutura elevada onde estávamos. Não um pulo, mas um passo em direção ao nada. Eu não podia me jogar, tinha que contar com a naturalidade de quem sabe caminhar nas nuvens. Só não desisti porque as duas meninas já haviam ido antes.
A monitora prendeu o mosquetão na corda e me mandou ir. Respirei fundo, pisei com delicadeza no ar e descobri que aquilo funcionava, que a corda me levava adiante numa velocidade deliciosa. Nem muito rápido e nem devagar. Via o lago abaixo de mim, sentia o sol quente na minha pele e ouvia os gritos das meninas do outro lado. Abri os braços e as pernas e me transformei por alguns instantes em estrela cadente.
Ah, eu fui e falhei miseravelmente... fiquei com muito medo, chorei, fui tomada por um pânico (provavelmente era mais perigosa, prefiro acreditar). Acabei descendo junto com o monitor e foi bem constrangedor.