Resolvi gravar uma versão em áudio desta newsletter, então vem me ouvir narrar a crônica da semana - e até cantar. Depois me conta o que achou!
Viajamos neste fim de semana e decidi insistir que era a minha vez de escolher a trilha sonora. Sabia o que queria ouvir: uma playlist criada por um amigo só com as músicas que tocavam no rádio nos anos 1990 (ele é mestre nisso, já falei dele nesta edição aqui).
Coloquei os óculos escuros e era como ter 12 anos e passar as tardes colada no meu toca-fitas enquanto esperava tocar The Cranberries e Roxette para gravar mixtapes. Na hora que começavam As sete melhores da Jovem Pan, eu sabia que tinha dado sorte: ia até conseguir incluir Right Said Fred (millenials, me julguem).
Eu queria cantar alto Ace of Base no carro, mas a Isadora dormia e a Bia não se aguentava. “Para, mãe, é cringe demais”. Para ela, eu nasci cringe. Minha filha não consegue imaginar um mundo onde eu pudesse ter sido (ou ser) descolada. Com ela no carro, é proibido: cantar, balançar a cabeça, batucar no volante. Me contentei com a Sheryl Crow cantando baixinho all I wanna do/is have some fun...
Começou a tocar Lovefool, dos Cardigans, e ela exclamou: “Mãe, essa música é um meme!”. Como explicar para uma menina de nove anos que aquilo não foi feito para ser trilha sonora de TikTok?
Ela não parava de reclamar, mas eu insistia na playlist. Estava feliz demais para abrir mão daquilo. Disse para pegar o tablet e ouvir as músicas dela. Eu não tinha aquela opção quando era menina e viajar com meus pais era uma tortura sonora: precisava ouvir Cat Stevens e James Taylor. O horror era quando minha mãe me levava para a escola ouvindo Antena 1: era música de sala de espera do dentista, eu reclamava. Meus pais eram cringe e eu não imaginava. (Quem diria que eu eu iria me emocionar tanto hoje em dia ouvindo Father and Son?).
Olhei para o banco de trás e vi minha menina com o fone de ouvido. Fui transportada para o dia em que ganhei um discman e podia finalmente escutar Oasis e Alanis Morissette no último volume sem ninguém reclamar.
Minha paz durou pouco. A Isadora acordou da soneca chorando e a minha única arma era Palavra Cantada. Ela parou na hora e ficou quietinha. Quando vimos, estávamos todos cantando e batucando tchibum tchibum/da cabeça ao bumbum (menos a Bia, obviamente, que queria sumir dali). Nossa trilha sonora é eclética.
Chegamos em casa e a Bia correu para o quarto. Quando vi, estava lá quietinha, ouvindo música e montando playlists. O círculo se fechou e ela nem imaginava. Não tinha ideia de que já fui como ela – com menos tecnologia, é claro. Foi como me ver no espelho.
Agora duvido que você não tenha ficado curioso ou curiosa com a playlist. Vem cá ouvir!
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Uma adolescência inteira reclamando de ouvir Nova Brasil, Antena 1 e Alpha no carro com meu pai.
E a lembrança de acordar com a minha mãe se arrumando pra trabalhar ouvindo o CD "Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão" da Marisa Monte num looping eterno.
Hoje, as rádios preferidas no som do meu carro são as mesmas que eu não aguentava mais ouvir de carona com meu pai.
E com ctz, Balança Pema, música do mesmo CD da Marisa que minha mãe ouvia todo dia de manhã, é uma das músicas que mais tocadas no meu Spotify.
Que ciclo !! E que delícia de texto!
Carol, conhece a Rádio Saudade, de Santos? Acho que vc vai gostar... ;)