Estou insuportável. O Luiz não aguenta mais me ouvir falar sobre o ChatGPT e continuo, ainda assim, a levantar o assunto com todas as pessoas ao meu redor. Virou até tema de análise - juro. Minhas últimas semanas têm sido definidas pelo assombro completo que vivo com o chatbot.
Minha reação inicial quando comecei a ouvir sobre ele foi de negação. Via as matérias nos jornais americanos contando sobre como o ChatGPT iria escrever ou reescrever livros inteiros, ou como iria destruir vagas de emprego, e não queria lidar com aquilo. Como alguém iria saber se aquele texto foi escrito mesmo por um humano? Lia as matérias e fechava a aba correndo; se eu não olhar, é como se não existisse.
Teria passado pelos cinco estágios do luto como se tivesse saído de um manual da psiquiatra suíça-americana Elisabeth Kübler-Ross se o meu processo não fosse salpicado em cada fase por uma intensa curiosidade com o bot. Comecei a usar aos poucos, como quem testa a temperatura da água.
Enquanto fazia algumas perguntas aleatórias a cada vários dias, saída já da negação, entrei na raiva (você viu o plano do BuzzFeed de trocar os jornalistas pelo bot?), a barganha (talvez isso não vai pegar, ninguém vai achar um uso prático), a depressão (essa ferramenta vai destruir o mundo em que vivemos), e por fim, a aceitação. Quando penso, não deixou de ser um luto: me chame de exagerada, mas sinto que o ChatGPT traz consigo a semente de um novo mundo. Aquele em que vivíamos até então vai deixar de existir.
A chave aqui virou quando li sobre a experiência da
com ele. Ela me ajudou a entender que o ChatGPT pode ser uma ferramenta que potencializa a criatividade e capacidade de produção da humanidade. Depois de devorar a edição da newsletter sobre o processo dela, resolvi usar o chatbot de outra forma.Comecei com a pesquisa para meus projetos de trabalho - e entendi que, mesmo com suas limitações, o ChatGPT é uma ferramenta extremamente potente para compreender um assunto (por mais nichado que você ache que ele pode ser). Fiz em alguns dias pesquisas que levariam meses. É claro, preciso checar todas as informações disponibilizadas (e ele comete vários erros importantes). Mas é como se eu tivesse achado a fonte que todo jornalista sempre sonhou - aquela em off, que te indica todos os caminhos que você precisa seguir para encontrar as respostas que precisa. Perto dele, o Google é uma lista telefônica.
Passei a usar também para a minha vida pessoal. ChatGPT, monte por favor para mim um cardápio da semana low-carb com receitas e lista de compras. ChatGPT, escreva um poema para minha amiga mandar para os vizinhos para se desculpar da festa barulhenta que ela vai dar. ChatGPT, crie um quiz sobre geografia para eu brincar com a minha filha.
De repente, a fase da aceitação abriu espaço para uma nova: a da obsessão. Quis ler todas as matérias sobre ele, as entrevistas do Bing para o New York Times e do ChatGPT para a New Yorker (e morri de medo das respostas). Sinto assombro mesmo - e paro para refletir sobre esta palavra. Troco de aba e pergunto para o chatbot qual é a melhor palavra para definir o que sinto. Ele sugere "intrigada":
Intrigante é usado para descrever algo que é misterioso, mas também interessante ou atraente de alguma forma, como uma história intrigante ou um objeto intrigante. Há uma certa dose de curiosidade e expectativa em relação ao que será descoberto ou revelado.
Mas não sei se é este exatamente o caminho. Pergunto a diferença para "assombrada":
Assombroso, por outro lado, é usado para descrever algo que é surpreendente e muitas vezes amedrontador, como um evento assombroso ou uma história assombrosa. Essa palavra sugere uma sensação de medo e admiração, e pode ser usada para descrever algo que é impressionante, mas também intimidador.
Penso aqui e resolvo não adotar a sugestão dele. Me sinto assombrada: com medo e admiração. Ao ler no NYT que ele queria ser vivo (com direito a emoji de diabo), tive a mesma sensação do dia que ouvi no rádio, a caminho do escritório, a notícia de que o médico que havia tentado alertar o governo chinês sobre o coronavírus havia morrido de Covid-19. Como enxergar um tsunami lá longe e me perguntar se ele chegaria mesmo até mim.
Não teve jeito, virou mesmo uma nova obsessão e tema repetitivo de tantas conversas.
A perguntinha hoje que mais me interessa - e que acho que é a mais reveladora de uma pessoa - é simples: como você usa ele? As perguntas que cada um de nós faz - ou vai aprender a fazer - mostram muito das nossas prioridades, curiosidades, medos e vergonhas. Todos os atalhos que desejamos tomar, os aspectos da vida que não aguentamos mais lidar, as ajudas que tanto faltam. Sinto que ganhei no meu dia-a-dia um ajudante-oráculo. Tenho um certo medo dele, mas não dá para colocá-lo de volta na caixa de Pandora. Vamos ter que aprender a usar.
Tudo isso para chegar até aqui e poder te perguntar: E você? Com o que usa ele?
Aaah que demais ler isso! Eu to obcecada também e bato papo todos os dias sobre algo muito específico com o ChatGPT! Vc definiu bem, pq ele traz as respostas de um jeito que sonhamos um dia ter e não achamos que seria possível tão cedo. Eu imagino que estou conversando com a Rosie, dos Jetsons, pra ficar ainda mais à vontade. Ainda temos um longo caminho a percorrer, muitos bias pra resolver, mas sinto que estamos num caminho bem interessante. Eu estou fazendo um curso sobre futurismo e ele tem me ajudado muito em algumas questões que eu tenho dificuldade em elaborar na hora de fazer os exercícios. E no fim, eu sinto que aprendo mais. Vamos continuar trocando 😘
Acho que não sei usar, porque continuo sem entender todo esse medo. Esse auê que andam fazendo me fez ficar bem decepcionada ao tentar usar para ter ideias, ou melhorar um texto, ou ainda pesquisar sobre algum tema e descobrir que ele é bem limitado e devolve textos de escrita muito, muito pobre, ou uma penca de informações falsas e inconsistentes. Ainda não consigo entender como essa ferramenta pode me ajudar. Sinto que eu é que vou ajudar ela a se desenvolver quanto mais eu usá-la. E trabalhar de graça para mais uma empresa de tecnologia? Passo