Olá!
Hoje é a estreia da nossa edição semanal de segundas-feiras! Nela, entrevistarei sempre uma autora brasileira contemporânea para discutir sua obra e falar sobre literatura.
Começamos com Natalia Timerman. Natalia nasceu em 1981 em São Paulo, é psiquiatra, escritora e doutoranda em literatura na USP. É autora de Copo vazio (Todavia), que narra a história de Mirela, uma mulher inteligente e bem-sucedida que sofre após o desaparecimento de seu namorado - falei sobre o livro nesta edição aqui.
Você pode conferir uma parte do nosso papo em vídeo. Abaixo, uma versão editada e condensada da entrevista.
Amor e abandono são os temas centrais de Copo vazio. Por que falar deles?
Esse é um tema tão recorrente na história da literatura que a pergunta que eu me fiz foi como falar disso hoje. Os avanços tecnológicos dão a impressão de que a gente evolui, mas tem coisas que não evoluem. E isso gera muita culpa, uma sensação de erro, de vergonha, como se sofrer por amor hoje em dia fosse inadmissível, né? Mas é algo que continua acontecendo. Existe todo um discurso de superação que às vezes passa por cima de realidades. É impossível achar que a gente vai superar todas as nossas vulnerabilidades - tanto as mulheres quanto os homens. É algo do humano.
Tem alguma coisa de você na na Mirela?
O livro teve uma semente autobiográfica que deu origem a uma árvore ficcional. Eu não sou a Mirela. Mas sofri algo parecido com o que ela sofreu há quase uma década e eu me impressionei com o tamanho daquele sofrimento. A Mirela é uma mistura dessa minha vivência com histórias de amigas. É um amálgama de algo que eu vivi, de algo que eu escutei, de coisas que minhas amigas viveram, coisas que li e coisas que eu inventei.
Você é psiquiatra, escritora e você também faz um doutorado em Literatura. Como você concilia?
A escrita não é mais lazer - ela está mais para uma maldição: eu tenho que fazer, me rouba tempo, me deixa culpada. Se eu não escrevo, me falta alguma coisa, e se eu escrevo, eu não estou com os meus filhos, nem estudando. Não é algo que eu dependo pra sobreviver, mas acho que o sentido da minha vida depende disso. E a gente vive num tempo tão utilitarista que as coisas que "apenas" fazem sentido não são suficientemente valorizadas.
Qual o livro que mais te marcou e qual que é o livro você acha que todo mundo deveria ler?
O que mais me marcou: Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Depois que terminei, fiquei alguns dias com uma sensação como aquela quando a gente volta de viagem, ou vive um algo muito transformador. É um livro que eu li, reli e só melhora - é infinito mesmo, quase como uma bíblia.
E um que todo mundo tem que ler: Escute as feras, da Nastassja Martin. A autora é antropóloga e foi mordida por um urso no rosto enquanto trabalhava no Norte da Rússia. Ela narra isto não como um acidente, mas como encontro - e passa a ser reconhecida para o povo originário como alguém de entre mundos, entre o mundo do urso e o mundo humano. No livro, ela faz uma ponte entre culturas.
Você está trabalhando já em um novo livro?
Estou escrevendo um romance sobre meu pai, que faleceu em 2019, e vai um pouco para as origens, das minhas origens, das origens dele, que são na Moldávia e Ucrânia. Estava indo para lá agora - não vou mais. É um livro que já está dois terços escrito e eu pretendo terminá-lo nas próximas semanas. Não vou poder ir para a Ucrânia, mas vou escrever de um outro jeito.
Expediente
Por Carolina Ruhman Sandler
Transcrição: Camila Mazzini
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