O jeito certo de ser humano
Edição #286: Spoiler: ele não existe. Um bate-papo com a americana Courtney Henning Novak
Olá, tudo bem?
Acabou o FliMUJ e ainda estou processando tudo que li e ouvi nos últimos dias. Hoje trago uma edição com a entrevista que fiz com Courtney Henning Novak e estou preparando uma edição especial sobre o festival. Continue a acompanhar e não deixe de assinar!
"A literatura nos mostra que não tem jeito certo de ser humano," me disse na semana passada a americana Courtney Henning Novak. A conversa aconteceu durante um café para a imprensa a convite do Museu Judaico, em meio ao Festival de Literatura do museu, o FliMUJ. Courtney ficou famosa depois de publicar um vídeo nas redes sociais elogiando Machado de Assis e veio ao Brasil para participar do festival.
Desde outubro, ela está em meio a um projeto de leitura global: um livro de um autor de cada um dos países do mundo, em ordem alfabética. Ela já passou pelo A, B e C e agora está começando com os países de letra D (Dinamarca, Djibouti, Dominica, República Dominicana). Eu fiquei fascinada com a visão de mundo que ela vai construir ao longo destas leituras.
Courtney é rápida e geralmente não escolhe livros imensos para o projeto - ela me contou que já leu 86 livros neste ano (a meta é de 100 por ano). Nesse ritmo, ela consegue dar uma volta ao mundo completa em menos de dois anos - a lista completa tem 197 países, mais territórios como a Palestina.
A ideia era sair da bolha americana e ler obras do mundo todo. Courtney sabe que ao ler traduções, ela ainda está, de certa forma, dentro da bolha - todos aqueles livros passaram pelo crivo das editoras para serem publicados em inglês. Ainda assim, é um projeto enorme sair do mundo anglófono e ler obras de autores com diferentes perspectivas, origens e visões de mundo.
O que ela não imaginava é que livros de países tão diferentes quanto Argélia x Costa Rica iriam falar tanto sobre os EUA e a influência americana: “É muito interessante, porque você está lendo sobre o mundo inteiro e acaba descobrindo muito sobre sua própria casa. Na maioria das vezes, os Estados Unidos aparecem como uma má influência ou como um lugar para o qual o protagonista está pensando em se mudar."
Como não poderia deixar de ser, conversamos sobre Israel. Ela me contou dos comentários que recebe de tempos em tempos de seguidores que assumem que ela não irá ler nenhum livro de um autor ou autora israelense.
No início, ela, que é judia, disse que ficava irritada e com raiva: "Como você ousa pensar que vou pular Israel?". "No entanto, agora, estou muito mais tranquila e meu pensamento é que este é um projeto sobre construir pontes, não queimá-las, e que todas as vozes são importantes, independentemente de sua política. E se eu fosse fazer esse projeto de forma a não ler um autor de um país por não concordar com sua política, não sei se ainda teríamos países para ler."
Ótima matéria. Indiretamente Courtney Henning Novak nos mostra que o jeito certo de ser humano é sair de todas as bolhas. É explorar a riqueza da diversidade. Fazendo isso, além de compreender o outro, acabamos por conhecer melhor nós mesmos.
É isso que a literatura nos proporciona: acesso a várias formas de ser e estar no mundo. Que projeto interessante a Courtney se propôs a realizar e que bom que chegamos a ela e ela a nós por meio da litetura. Acompanhei a passagem dela pelos stories e fiquei feliz em ver que o Brasil se mostra e acolhe por sua arte e nossa gente. Que ótimo que pode falar com ela e trazer um pouquinho para nós.