Quando eu dava uma palestra sobre educação financeira na minha vida carreira passada, sentia que precisava ser forte: durona, salto alto, pose impecável. Fiz aulas de teatro e coaching de atores e usava todas as técnicas disponíveis. Antes de subir no palco, agradecia em silêncio às mulheres que vieram antes de mim e fazia uma pequena invocação ao poder. Quando estava lá em cima, meu objetivo era ser imbatível. Ter todas as respostas, conhecer os caminhos certos e errados e levar toda a plateia comigo rumo à independência financeira.
Que peso. Na hora em que pifei, percebi que era uma piada acreditar que sabia o que todo mundo devia fazer com sua vida financeira. Como assim, se eu mesma não sabia o que fazer com a minha? O burnout foi a senha para encarar todos os rumos errados que eu havia tomado e começar a buscar um novo, mais alinhado comigo mesma.
Fui buscar na leitura uma cura de toda aquela ansiedade e encontrei nela a paixão antiga, o desejo que falava bem baixinho: olha mais pra mim. Aos poucos, comecei a construir um novo caminho. Comecei o mestrado, abri a newsletter, criei projetos e parcerias novos, todos guiados pelo amor aos livros.
Corta para março deste ano. No final do mês passado, chegou a vez de voltar a falar em público de novo, no primeiro encontro do salão literário que estou organizando1. Retomei na hora todos os hábitos antigos: bota o salto, pose impecável, sempre de pé, segura, em controle.
Mas foi como desenhar uma versão nova minha em um papel vegetal e colocar por cima de uma foto antiga: como esperar que a nova imagem coubesse ainda? Me senti dura, rígida, chata.
Ao final da noite, ouvi da Jackie, minha sócia no projeto, que eu podia simplesmente relaxar e aproveitar mais aquilo que eu estava fazendo. Dá para falar e também respirar. Foi uma revelação: o quanto eu curti de fato fazer aquilo?
Voltei para casa pensando. Comecei a perceber como a minha rigidez perpassa tanto do que faço - seja a trabalho mas também com minha família. Levei a Bia para almoçar fora e pegar um cinema no feriado e não parava de olhar no relógio e planejar cada passo do programa. Está na hora de comprar as balas: vamos correr! Está na hora de passear: vamos logo! Está na hora de o filme começar: não podemos perder os trailers!
A Jackie me convidou para adotar um olhar mais suave comigo. Esta me parece ser a chave: só assim consigo ser suave com os outros. Eu posso fazer tudo o que preciso e aproveitar o durante - e não só esperar o alívio de ticar a tarefa realizada. O prazer deve vir no meio, e não só no fim.
Virou uma nova forma de tentar viver a vida, coisa que valeria uma promessa de ano novo se estivéssemos no final de dezembro. Como não estamos, fica a intenção sem a embalagem para presente: saborear o fazer. No próximo encontro do Salão Literário, você vai me encontrar sentada na poltrona, contando o que tem de mais belo sobre meus livros favoritos. Chega de pose.
Junto com a
e a The School of Life Brasil. Vem se inscrever para o próximo comigo - o tema vai ser O Outro e vamos falar sobre como a literatura pode nos trazer mais empatia e entender a perspectiva daqueles que são diferentes de nós. Vai ser imperdível!
Pois é... Acho que muitos de nós já estamos bem conscientes da importância de se deixar levar pela jornada. Fruir, flanar o caminho e tal... O meio do caminho... Mas nem sempre é fácil! Não fomos treinados para isso. Às vezes penso que é um exercício de uma vida. Leio e procuro pôr em prática há décadas e confesso que tenho evoluído bastante até. Mas basta um deslize, uma sombra... e lá vai o Daniel posudo querer cantar de galo! rs
Que lindo! Olhar para o passado como aprendizado e nos conciliar com a pessoa que fomos é libertador. E abre tantas possibilidades de ser de outros jeitos, experimentar outros caminhos.
Eu sou uma pessoa que comemora pouco as conquistas, sempre preocupada em perder aquilo ou esperando que algo dê errado. Treinar o olhar para ter perspectiva, como você traz no texto, é fundamental ♥️