Eu não estou bem (e tudo bem)
Edição #325: O desafio de escrever sobre a dor sem virar reclamona
Aviso de férias: estou indo viajar com a família e essa newsletter vai entrar em recesso. Volto com a edição do dia 9 de julho, com a cuca fresca e mil histórias para contar.
Vamos falar as coisas como elas são? Respira, cria coragem e diz logo: eu não estou bem. Não estou bem há algum tempo, mas tenho evitado vir aqui chorar as pitangas. Tenho medo de parecer reclamona, de me expor demais, de tanta coisa que já nem sei. Mas uma amiga me relembrou do propósito maior desta newsletter e percebi que eu precisava ser vulnerável e honesta por aqui.
Acho que o mundo precisa de mais gente que assuma isso. A era dos influencers - da qual, aliás, eu mesma fiz parte - está acabando. As pesquisas mostram que as pessoas querem ver gente real nas redes. Não uma imagem polida, fabricada em posts cuidadosamente roterizados para passar uma imagem de alegria e realização constante.
Conta pra mim: quantos influenciadores você ainda segue?
Parece outra vida, mas durante anos eu era uma dessas vozes das finanças pessoais na internet com certo alcance. Tinha o pacote completo: livros publicados, entradas diárias numa rádio nacional, um quadro de TV, plaquinha do YouTube, vários anunciantes. Lives e stories diários dando dicas, respondendo perguntas, mostrando um estilo de vida editado para revelar alegria, equilíbrio nas contas e sucesso na vida. Mas chegou uma hora em que a pressão de manter a imagem ficou opressiva. Eu sentia culpa de comprar um casaco parcelado, com medo do que iam pensar.
Fechei o Finanças Femininas após uma crise de burnout daquelas - e criei essa newsletter para ser um espaço de autenticidade e criatividade. Para falar da vida e dos meus livros favoritos. Aos poucos, descobri como gostava de escrever crônicas a partir das leituras que fazia, uma mistura de paixão pela literatura com o caos cotidiano.
No entanto, nestes últimos tempos, senti que meus textos ficaram mais pesados. Meus medos de transformar esse espaço em um muro das lamentações acabaram por tolher de certa forma a minha criatividade e a escrita em si. Ainda assim, acho que a dor que ando sentindo tem saído pelos poros de cada edição que publico.
Achei melhor contar de forma direta: não, não estou bem.
Sim, tenho apoio e estou sendo cuidada pela minha família e amigas. Faço análise, leio muito, cuido dos meus amores. E não, não acho que contar isso por aqui signifique um harakiri digital. Acho que quem gosta de me ler vai se interessar também por entender como a vida funciona quando ela não vai bem.
Afinal, a vida de ninguém funciona sempre às mil maravilhas, não é?
Escrever sobre a dor não me faz reclamona. Me faz humana.
Obrigado pela honestidade e muito obrigado por essa coragem, ao sair da sua zona de conforto.
A sua pergunta sobre influencers é muito boa e pertinente. Sou da epoca da internet a vapor, da internet preto-e-branco, vi a internet nascer, colaborei com esse monstro. E vi o nascimento e a bancarrota dos influencers. Os grandes influencers, os influencers serios. A grande maioria da pertinência de conteudo diluiu e o que sobrou foi a parte rasa, os replicadores e seguidores de tendencias. A massa densa de criacao e inovacao ou cansou ou perdeu o publico, o que é triste.
Mas, ao mesmo tempo que essa grande massa de autoridades conhecidas e espelhadas caem, os criadores autonimos, genuinos, nao muito preocupados com frequencia e roteiro, estao crescendo e ganhando tração. É o que você falou e é o que realmente tem acontecido. Meu youtube tem muita gente genuina, e cada vez menos enlatados.
O substack para mim é a sintese da leitura calma e despretenciosa: um bando de excelentes escritores, alguns que (talvez por sorte) nem saibam que são pincaros da escrita despretenciosa e densa.
O mundo esta muito dinamico e imediatista, quase impossivel de seguir, um fast-fashion da cultura diaria :)
A M E I ... a honestidade, a sinceridade e a vulnerabilidade... que seja uma fase breve e que traga frutos! bj