Tudo sobre o amor | Primeira Carta
bell hooks sob o olhar de Carol Sandler e Mariana Wechsler
Esta é a primeira carta de uma série de correspondências sobre o que é o Amor em 4 partes entre eu e a Mariana Wechsler, da newsletter
. Nós trocaremos ideias sobre nossas experiências e percepções sobre o livro Tudo sobre o amor, de bell hooks (Editora Elefante).Escreverei a primeira e a terceira aqui no
; Mariana escreverá a segunda e quarta carta em.Links serão adicionados à medida que as cartas forem publicadas.
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Querida Mari (posso já ser íntima?),
Quando os seus filhos nasceram, você sentiu na hora todo aquele amor que nos prometeram? No parto das minhas duas filhas, foi exatamente assim que aconteceu. Eu sentia que já amava as meninas na barriga e a hora em que elas vieram ao mundo, fui inundada pelo sentimento mais grandioso que já imaginei.
No entanto, sei de muita gente com quem a história foi diferente. O amor chegou aos pouquinhos, junto com o leite, os banhos, as trocas infindáveis de fraldas. Não existe regra, nem certo e errado.
Quando estava com a minha segunda filha na barriga, a Isadora, fiz um curso de grávidas com a maravilhosa Dulce Amabis. Ela nos contava que o amor surge com o cuidado. Muitas mães de primeira viagem ali estavam preocupadas com a ideia de o amor não nascer junto com o bebê, e ela acalmou todo mundo ali. "É no cuidado com o corpinho do bebê que o amor surge", ela falava a cada encontro virtual nosso (estávamos no auge da pandemia).
Pensei nela quando comecei a ler, por convite seu, Tudo sobre o amor, de bell hooks. Ela diz que amor não é um sentimento, mas sim uma ação. Algo que a gente faz no dia a dia. A intelectual e teórica do feminismo cita o trabalho de Erich Fromm, quando ele define o amor como "a vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa". Achei lindo isso: é isso que entregamos diariamente aos nossos filhos, esse empenho ao máximo.
A Bia, minha filha mais velha, reclama que eu amo mais a caçula. Como eu poderia? O ciúmes é uma fachada para a insegurança dela. Será que a irmãzinha bebê vai roubar todo o meu amor? O que ela não sabe é que o meu amor não vive num potinho com um estoque limitado. Ele cresce a cada dia.
"A afeição é apenas um dos ingredientes do amor. Para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes - cuidado, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação aberta", ensina hooks. Ao ler todos os ingredientes desta poção mágica, o segredo do crescimento constante fica claro.
Me lembro quando estava grávida pela primeira vez e perguntei para a minha mãe se algum dia ela havia me amado mais do que me amou no dia em que nasci. A ansiedade para aquele momento era enorme. Mais do que querer saber como cada coisa ia acontecer, eu queria era entender como iria me sentir. Minha mãe deu risada da minha ingenuidade e respondeu com um "óbvio" em meio às gargalhadas. Amar uma filha que cuidamos diariamente, testemunhamos os tombos e as vitórias, compartilhamos uma rotina e uma intimidade é absolutamente inevitável.
Entendi agora que o cuidado é o fermento do amor.
Ao ler bell hooks, comecei a compreender que existem múltiplas formas de expressar o amor (como contei na crônica de quarta-feira). Ele vai muito além dos clássicos "eu te amo" e das flores nas datas especiais. O amor que sinto pelas minhas filhas é o banho que adoro dar, o cuidado com os cabelos, as séries que amamos assistir juntas, as conversas na hora de ir dormir, as músicas que canto e os sanduíches que preparo.
Foi inevitável também olhar para cima na minha árvore genealógica e compreender meus pais e avós de outro jeito. Amar também pode ser o cobrar notas e não deixar faltar na natação. Trocar ideias sobre livros e insistir que eu precisava saber os nomes de todas as ruas da cidade. Estar presente no dia-a-dia, mandar uma figurinha no WhatsApp e todas as nossas formas de fazermos parte uns da vida dos outros são, sim, formas supremas de amar. É claro que elas não bastam quando são isoladas e supérfluas - mas juntas contam tanto quanto cada abraço carinhoso.
Me conta como foi a chegada do amor na sua família? Como vocês cuidam uns dos outros? Sua experiência como educadora parental me interessa profundamente. Afinal, não é só de perfume de rosas que vivemos aqui em casa. Falta paciência, sobra cansaço e muitas vezes é difícil fazer a equação do amor e cuidado fecharem.
Um beijo com carinho,
Carol
Querida, em relação a isso meu comentário seria um livro… importante demais acolher as mães novas sobre o processo pois a romantização da prática deixa muita mãe se sentindo muito mal.
Muito legal sua carta, como tudo que você faz ❤️❤️👏👏💪💪🙏🙏
enlouquecida, desde já, com a perspectiva dessa troca de cartas.
que delícia, que delícia!
obrigada por nos deixarem "assistir".
(já fiquei louca com o livro tbm... foi pra lista sem fim...)