Tudo sobre o Amor | Terceira Carta
bell hooks sob o olhar de Carol Sandler e Mariana Wechsler
Esta é a terceira carta de uma série de correspondências sobre o que é o Amor em 4 partes entre eu e a Mariana Wechsler, da newsletter . Nós trocaremos ideias sobre nossas experiências e percepções sobre o livro Tudo sobre o amor, de bell hooks (Editora Elefante).
Você pode ler a primeira carta que eu escrevi e a resposta que a Mariana me enviou. Esta que você recebe agora é a terceira carta - e a Mariana enviará a quarta e última no dia 29.12.
Links serão adicionados à medida que as cartas forem publicadas.
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Oi, Mari! Tudo bem?
Que delícia receber a sua resposta! Fiquei tocada com a sua história e as suas reflexões.
(Se você ainda não leu, veja aqui:)
Mas fiquei mesmo completamente mexida com o cálculo que você trouxe sobre a possibilidade de nossas vidas serem o que são:
"Segundo o professor de Harvard Dr Ali Binazir, as chances dos seus antepassados terem se encontrado e poderem ter filhos até as suas chances de ter encontrado o seu parceiro e de vocês terem suas filhas é uma em 400 trilhões.”
Sempre pensei nisso, em como somos sortudos de estarmos aqui, de termos conseguido cruzar a linha de chegada que é a saída do ventre materno. Contei este número para o Luiz e a Bia e ficamos os três juntos, meio maravilhados, sentindo esta ideia repercutir aqui dentro.
Vou te contar um pouco da minha história então. Eu cresci sonhando em ser mãe e precisei me segurar logo que casei para não querer engravidar direto. Queria aproveitar a vida de casada, sabe? Mas não aguentamos de ansiedade e logo decidimos tentar. Engravidei da Bia com uma facilidade e naturalidade que tinha certeza que se replicaria quando quisesse encomendar um irmão ou irmãzinha.
Só que não foi o que aconteceu. Eu tinha certeza que teria um teste positivo em mãos em semanas, mas as semanas viraram meses, e eles viraram anos. Todo mês, um negativo nas mãos me fazia sofrer mais e mais. Três anos depois, não aguentava mais os tratamentos, as agulhas, os remédios e os exames e desisti. Achei que aquela não era a minha história. Coloquei um DIU e fui viver um luto da ideia do bebê com quem eu tanto havia sonhado.
Na pandemia, no entanto, senti minhas prioridades mudarem tanto. Aquilo de ficar grudada em casa com a família me fez bem - e voltei a me permitir sonhar com mais um bebê. Eu e meu marido conversamos muito até chegarmos à conclusão de que valia a pena tentar de novo. Escolhemos outro médico, me despi de toda ansiedade e recomeçamos as tentativas. Em duas semanas, estava grávida da Isadora.
Eu não conseguia acreditar! Entendi ali que não controlamos nada e que tem a hora certa para tudo na vida. A Isadora era pouco mais que uma semente, mas já começou a me ensinar tanto dentro da minha barriga.
A gravidez dela foi uma revolução na minha vida. Tive burnout, crises de ansiedade, estávamos no pico da pandemia e nada de vacina à vista. Pifei. Mas como estava grávida, precisei parar e cuidar de mim e dela. Parei de trabalhar e me confrontei com reflexões que não me permitia ter enquanto estava trabalhando naquele ritmo insano. Decidi encerrar meu negócio e criei coragem para me reinventar e voltar a estudar.
Pensei nisso enquanto lia a bell hooks. Em determinado momento, ela fala:
"Nós descobrimos quem somos de verdade no amor."
Quer uma forma mais perfeita de mostrar como aqueles que amamos e que nos amam são nossos maiores professores?
"Uma vez que o verdadeiro amor lança luz sobre aqueles aspectos de nós que queremos negar ou esconder, permitindo que vejamos quem somos claramente e sem vergonha, não é surpreendente que tantos indivíduos que dizem querer conhecer o amor se afastem quando esse amor lhes acena."
bell hooks nos ensina que amar dá trabalho - tanto no cuidar dos outros quanto ao olhar para dentro para vermos o que precisamos mudar em nós. Encontramos as verdades sobre nós mesmos que não gostaríamos de enxergar e temos a oportunidade de trabalharmos para nos tornarmos pessoas melhores.
Ao amar meu marido e minhas duas filhas, me torno aos poucos menos bagunceira e mais cuidadosa. Mais paciente e menos nervosa. Mais leve e, sem dúvida, amorosa.
Este livro me fez enxergar o amor sem precisar de lentes cor-de-rosa. Sempre fui romântica, mas a análise que encontrei na obra me ajudou a entender como o amor nasce, como regá-lo e cuidar dele, e no processo, me tornar uma pessoa melhor. Me fez lembrar de Nature Boy, de Nat King Cole:
"The greatest thing
You'll ever learn
Is just to love
And be loved
In return"
Ser amada é maravilhoso - mas sentir o amor dentro de mim, vazando de cada poro, é divino. Entendi com bell hooks que o amor é o destino e o caminho para chegar até lá. Um presente lindo para encerrar este ano.
Como a leitura de transformou? Você também encontrou formas diferentes de pensar no amor depois da bell hooks?
Conta para mim!
Um beijo enorme da sua nova amiga,
Carol
Nature Boy... ❤️
Que delícia de texto!