No meio de uma crise familiar alguns anos atrás, fiz um curso sobre resiliência (na School of Life, amo). Queria aprender como lidar melhor com os momentos mais difíceis, aqueles que você tem vontade de se trancar no banheiro e só sair de lá quando tudo tiver passado. De tudo que aprendi ali, o que realmente ficou comigo foi a consciência de que tendo a catastrofizar quando a água bate no pescoço.
Começo a achar que aquilo vai durar para sempre. Que só vai piorar. O cenário apocalíptico vira o meu cenário-base: não consigo enxergar uma saída, muito menos outras possibilidades, e entro, logicamente, em pânico.
No entanto, aprendi que na imensa maioria das vezes, a catástrofe não se concretiza. A situação de alguma forma se acalma, surge ajuda e apoio de onde não imaginávamos, a inflamação aos poucos diminui. Quando você vê, é capaz de dar um passo, e depois mais outro.
A crise passou faz tempo, mas a noção da catastrofização ficou comigo. Conhecer este mecanismo me deu um certo poder lidar com crises. Aprendi que se trata de uma distorção cognitiva – e não tem nada que diga mais “não é verdade, não é bem assim” do que essa classificação. Entendi que se conseguir manter um pouco de calma, posso evitar aquele buraco negro.
Não sou nenhuma expert no assunto, tá? Muitas vezes, desde então, eu vi o buraco bem da borda e até perdi o equilíbrio em algumas delas. Mas nunca mais cai fundo nele como naquela crise.
Na newsletter na semana passada, o meu tom era mais esperançoso. Com presença, eu defendi, conseguia tentar lidar com as dificuldades do puerpério. Nesta semana, no entanto, o meu estoque de energia caiu tanto que olhei para aquele texto e me achei uma Pollyanna. Nesta semana, estou simplesmente tentando não entrar de novo na catastrofização.
Veja bem: estou exausta. Há mais de duas semanas, não tenho mais do que 3 horas diretas de sono. Neste regime, é fisicamente impossível entrar no estado de sono reparador. Lembro do que o meu pediatra me falou quando tive a minha primeira filha: interrupções de sono recorrentes são uma técnica de tortura. Era isso que a CIA fazia com os terroristas do 11 de setembro – e é a isso que as mães são sujeitas quando chega um novo neném.
Por isso, quando ouço o chorinho da Isadora no meio da madrugada ou então o despertador avisando que é hora da próxima mamada, é quase impossível não achar que isso vai durar para sempre. Eu já passei por isso antes e mesmo assim catastrofizo: acho que nunca mais vou dormir. Penso nas próximas semanas e meses como uma interminável madrugada insone. Dá vontade de chorar (e tem horas que eu choro mesmo).
Enquanto pensava sobre o que escrever na news desta semana, percebi que nessas horas de semi-desespero, eu me apego a três estratégias (que servem para muitos outros momentos além do pânico da madrugada):
Em primeiro lugar, lembro que estou catastrofizando. Ter a consciência de que aquilo é – de novo – uma distorção cognitiva ajuda de certa forma, assim como saber que os cenários imaginados raramente se concretizam.
Depois, lembro da minha própria experiência de que isto passa. Uma hora o bebê aprende a dormir melhor e consegue, aos poucos, dormir uma noite inteira.
Por fim, uso uma técnica que aprendi com a socióloga Martha Beck (o livro “The Way of Integrity” é um presente): eu me lembro que não preciso, naquele momento, lidar com meses sem dormir. Nem mesmo com aquela noite sem dormir. A única ação que preciso dar conta naquele exato instante é aceitar a realidade (estou com sono, é hora de mamar, a Isadora está com fome, preciso acordar e amamentá-la) e dar conta daquela mamada.
Só daquilo. Eu não sei se consigo passar meses sem dormir, mas percebo naquele momento que tenho sim energia para mais uma mamada.
Se eu abro mão da esperança de dormir uma noite inteira tão cedo e simplesmente encaro o momento presente, vejo que ele é mais fácil do que eu pensava. Entendo que estou catastrofizando e me lembro que vai passar. Um passo depois do outro.
amei amei amei esse texto. obrigada por dicas tão valiosas
Carol, minha filha ficava tanto tempo no peito que quase dava a hora da outra mamada. Além disso, ela tinha refluxo. Chorava e berrava por HORAS a fio. Parecis que eu a estava matando a pancadas. Era tudo isso e o desespero de não conseguir fazer NADA para aliviá-la -- e fui a médicos, benzi, dei remédio, massagem, banhos, fito... tudo. quando ela completou 3 meses, fez um cocô preto e parou. Do nada. durante aqueles três primeiros meses, eu só queria dormir, e quem me ajudou foram meus pais. durante todo o tempo, eu sabia que iria passar; eu tinha visto acontecer com minha irmã. Também me ajudou maratonar séries na Netflix, no primeiro mês, e ler -- e eu levava as tarefas junto com essa vida tanto quanto conseguia. Li um livro chamado "Mae em Construção", da Isabel Coutinho. Foi muito bom, e recomendo a leitura. eu não catastrofizava: eu respirava e pensava que catastrofizar ia piorar para mim e para a minha filha. Mas eu reconhecia crise, e isso é maravilhoso. É como você diz: são estratégias. Para mim, funcionou não entrar em crise, só que cada uma trabalha da melhor maneira para si, né? O maravilhoso é ver que Deus nos fez todas fortes, resilientes. Paciência e estratégias, e os dias passarão mais rápido do que lembrará. Um beijo!