Eu não preciso daquilo. Gastei um dinheiro excessivo nele, inclusive. Mas o prazer que sinto ao abrir o caderno todos os dias de manhã compensa. Ele é de couro na cor bronze e a lateral das páginas é dourada. Na capa, quatro números: 2024. É o meu planner - e é lindo.
O conceito de um planner nesta altura do campeonato é completamente anacrônico. Temos aplicativos suficientes para organizar a vida e deixar tudo na tela do celular: agenda, to dos, Notion. Minha organização digital é de causar inveja - chego ao extremo de ter uma wiki de todos os cardápios semanais que já criei. O Luiz olha para o meu caderno chamativo em cima da mesa e pergunta: você precisa mesmo disso?
De forma alguma. Mas nem tudo deve ser à base da necessidade. Gostamos de alguns objetos só por serem belos. Extravagantes. Desnecessários. Deliciosos.
É um pequeno ritual. Dá uma alegria enorme só de tirá-lo da bolsa. Pego minha caneta de quatro cores e começo a programar o meu dia. Anoto em roxo os compromissos, as reuniões, os almoços e encontros. Em rosa, planejo o momento de escrever a edição desta newsletter e todas as leituras e trabalhos do mestrado. Em laranja, as tarefas do trabalho - apenas as prioridades. Em azul, os grandes eventos: aniversários, viagens, festas. O resultado é uma semana colorida, uma página onde consigo enxergar como vou dar conta de tudo.
Os aplicativos do celular servem para lembrar de cada detalhe que compõe a rotina e o trabalho, um estoque organizado do oceano da vida de mãe-estudante-escritora-executiva (esta última é novidade). O caderno é o lugar do mais importante e estratégico, daquilo que amo e me dá prazer. Ao programar nele meu dia, me sinto organizada, planejada, eficiente. A caneta colorida dá um toque divertido. É um deleite usar a minha melhor caligrafia e ocupar todos os espaços.
Olho para as semanas anteriores e vejo o quanto realizei. O planner é um lugar de futurologia e arqueologia. Tudo que vivi deixa marca.
Pode ser o Sol em Touro, mas eu gosto do material, do objeto belo, do conforto. O ato de pegar um caderno bonito é esteticamente delicioso. (Lembro de um dia em que um amigo que cursava Filosofia me acusou do outro lado de uma mesa de bar, no fim da adolescência: "você é uma esteta!". Morri de rir. O xingamento dele era motivo de orgulho para mim).
É o mesmo tipo de prazer - embora bem menos elevado, confesso - que o de mergulhar em um quadro do Rothko ou ouvir Mad Rush. O belo não precisa de função ou propósito. O supérfluo também tem seu valor.
Então me deixa em paz com meu planner. Ele não é nenhuma obra de arte, mas é um pequeno espetáculo particular.
Se você ficou se perguntando, o meu planner é da MH Studios. E não, esta edição não é publi - é amor.
Das coincidências da vida: temos o mesmíssimo planner! Mesma cor e tudo mais <3
Uma delícia poder escrever, rabiscar, riscar tarefas, desenhar aqueles "doodles" sem sentido no meio de uma reunião de vídeo...
Como aprendi com minha primeira chefe, Glória Kalil, “luxo é o avesso da roupa”, aquele prazer íntimo que só você vê/sente -- o forro da jaqueta feito de seda listradinha, por exemplo. Lendo seu texto, pensei: planner é luxo! ❤️➰