Sobre empolgação, corujas e a maravilha
#85 E mais um convite gratuito de evento comigo em São Paulo
Eu me empolgo com tudo. Para quem convive muito comigo, é algo meio cansativo. Troco de manias, mas a paixão por me apaixonar é uma constante. Fico monotemática e obcecada. Como levar a sério alguém que se empolga com tudo?
Outro dia, fui a um almoço com várias amigas e brinquei com uma delas que eu adoraria ser jurada de um reality de culinária. Ela brincou: "você iria premiar todo mundo!". Eu daria para um participante o prêmio de melhor tempero, para outro o de melhor apresentação, e assim por diante. Encontro graça e sabor em (quase) tudo.
Em nossos tempos tão cínicos, parece uma falha de caráter. Não é que o espírito crítico não me habita - a caminho de entrar na minha quinta década de vida, ele me ajuda a evitar muita coisa que eu já sei que não vou curtir. Assim, esse lado Poliana me empurra a ser uma espécie de labrador humano.
Me assombro com o mundo e suas possibilidades - e tento ensinar isso para as minhas meninas. Viajamos bastante para o interior e o condomínio tem um monte de corujinhas. Eu me encanto, fotografo cada uma que vejo, tento mostrar para a Bia, mas ela só vira o olho e reclama: "você tem algum problema com essas corujas, mãe". Não me importa - cada uma que encontro é um presente.
Um texto da Luciana Andrade na
mexeu comigo. Nele, ela explica sua filosofia de redução de danos:"no lifestyle da redução de danos, a gente busca não gastar todas as fichas, preservar nossa energia, prever lances e especialmente cuidar das emoções para se guardar. meu eu dentro de uma caixinha super preservada. minha vida-bibelô sobre um microtravesseirinho de cetim (citim, como diria hebe)."
Quando li aquilo, percebi que sou o oposto: gasto todas as minhas fichas, doo toda a minha energia, não calculo lances antecipadamente e distribuo minhas emoções como se fossem confete. Discuto na análise que precisava aprender a me conter, a guardar um pouco, a não dar tudo de mim o tempo todo.
Com o livro A vida secreta das emoções, da Ilaria Gaspari1 (já falei dele aqui), percebi que essa minha característica não é de todo ruim. A cada capítulo, Gaspari discute uma emoção e argumenta que são elas que nos tornam humanos. Na reta final, encontrei a minha favorita: a maravilha (óbvio):
"Sem maravilha não sentiríamos nada, não nos emocionaríamos nem mesmo por acaso. Deveríamos «aproveitá-la», portanto, porque favorece e encoraja o aprendizado".
Gaspari explica que este maravilhar-se nos quer "vulneráveis, mas alegres: prontos para deixar que a vida nos arrepie, nos intrigue". "Ela nos confere uma atitude aberta, espontânea, que não alcançaríamos com pose nenhuma, nem se tentássemos ser retratados com o ar mais ingênuo de que somos capazes; e ainda tem um papel significativo em nossa vida cognitiva e também emocional", explica.
A maravilha nos permite sermos pegos de surpresa por nosso olhar e nos encantarmos com o que encontramos. Ela nos convida a enxergar os detalhes no meio da rotina e abre o caminho para paixões. Entendi que a maravilha é minha parte favorita da vida.
Fiz então as pazes comigo: nasci predisposta a encontrar graça na vida.
Aliás, um convite pra você: no sábado, vou moderar um bate-papo gratuito com a Ilaria Gaspari na The School of Life Brasil, em São Paulo. Vem se inscrever aqui:
O mundo precisa de gente predisposta a encontrar graça na vida para ficar mais leve, Carol!!
Carol, você é muito luz. Que bom te ler ❤